Figas de Saint Pierre de
|
|
« em: Maio 20, 2014, 22:09:05 » |
|
ETIQUETAS RASGADAS! O rapazinho fora adotado e bem educado! Já moço, era um rapaz bem educadinho! Não cuspia no chão. Rezava, com as mãos erguidas, de cabeça pendida, e lembrando-se do tempo da fome, quando era pequenino e, respeitosamente, esperava que do céu, caÃsse maná! Ainda hoje, a qualquer sÃtio que vá, por qualquer sÃtio que ande, quando vai a uma missa espera que em vez de comer Cristo numa hóstia, espera que Lho deem numa sande! Sempre bem educadinho, certinho, arranjou um emprego, a salário mÃnimo. Quando do patrão recebia o salário, dizia, sempre; -“Muito obrigadinho†-“És bom menino, bom operário. Quero-te para sempre, não temporário! “ Como era poupadinho, poupou um dinheirinho e, como gostava de, além de rezar olhar para o céu, um dia, comprou um bilhete de avião e: “Lá vou euâ€, pensava. Tinha a impressão de quanto mais perto do céu melhor seria ouvido sobre o queria. O que ele queria era viajar. Viajar é conhecer, é frequentar uma universidade. Há pedreiros, que embarcam na TAP, chegam a Maputo e logo são mestres- de- obras, dizem! Dizem que a TAP é a melhor universidade do Mundo! Visitou cidades e monumentos, mas, como o dinheiro não era muito não tirava fotografias! Registava tudo com os seus olhares! Deste modo poupava nos flashes! Lentamente, novos costumes e novas lÃnguas foram ficando na sua mente, vendo diferentes comportamentos e diversas gentes, parecendo-lhe que não eram de muitas etiquetas! Uma noite, estando ele, em cuecas, no seu quarto de hotel, entrou uma garota, sem etiquetas -“Ó, desculpe, posso? Perguntou, sem ter batido à porta! Ele, que era ainda educadinho: -“Não tem de quê. -“Então?! Posso ficar? Ele começou a rir e as cuecas acabaram por cair! Viajar é aprender, um contÃnuo estudar. Grande lição foi quando, na receção, teve de pagar a visita da garota ao seu quarto. Pensara que era tudo incluÃdo. Enganou-se. Depois, passou a fechar bem as portas dos quartos e apertara bem as cuecas, com receio de gente sem etiquetas! Mais tarde, ficou um pouco surpreendido quando lhe disseram o significado de “Fuck you†e Sheet for you†Por onde andou viu greves, manifestações e gente a comer com as mãos! Que horror! Ele estava habituado, embora ganhasse pouco, a comer de faca e garfo a cada refeição em casa do patrão! O patrão era boa pessoa, ele bom operário, bom menino, educadinho, que merecia o salário mÃnimo e trabalho não temporário! Já tinha ouvido qualquer coisa sobre sindicatos, “mas que adianta protestar?!†Pensou, Então não é melhor ser bem-educado e esperar que o patrão, na sua infinita bondade, se dignasse aumentar o salário? Logo ele, um bom rapaz, bom operário, que estava a fazer aquelas primeiras férias depois de durante três anos ter poupado! A visita da garota ao seu quarto do hotel é que lhe estava a fazer confusão, por ter de pagar aquela enorme quantia na receção, pelos serviços –diziam- recebidos! Ele bem alegara que só tinha deixado cair as cuecas e que depois não se lembrava do que se tinha passado, embora, não soubesse bem explicar, sentira-se um pouco mais relaxado! Com o rombo verificado no casco da carteira, esta começou a andar à deriva e o seu dono a fazer contas à vida. Assim, iniciou a viagem de regresso a Portugal. Já no avião sentia-se um Vasco da Gama frustrado. Afinal, bem- educado, nada tinha gamado, antes pelo contrário! Aquela garota tinha-lhe armado uma ratoeira. Ele tinha procurado um hotel muito modesto, mas que, afinal, tinha serviços personalizados, embora caros! Já ouvira seu patrão, que deixara escapar que não lhe podia pagar mais, porque sua mulher gostava de vestir-se bem e ter joias e que uma mulher ficava muito cara! Até dizia que o Governo devia dar um suplemento conjugal; um reforço de capital. Que ele, rapaz solteiro, é que tinha sorte! Não estava metido em trabalhos! Tentou pensar positivo, sim, porque qualquer coisa tem dois lados; duas perspetivas. De momento, o rapaz, bem-educado e bem-parecido, não ganhava para ter uma sociedade de casal ativo! Tinha que viver na condição de solteiro, e no relacionamento sexual, como empresário em individual! Aquela noite, com a garota no seu quarto, tinha-lhe deixado um travo doce para repetir! Uma das vantagens que obtivera da viagem é que tinha aprendido algumas palavras doutras lÃnguas. O céu estava nublado, devido à ventania, a aproximação ao aeroporto estava difÃcil. O voo era duma companhia low-cost. Depois de uma saltitante aterragem, lá foi ele para a zona da bagagem, esperando a sua; uma pequena mala preta! Esperou, esperou, esperou! O tapete rolava, rolava, trazia malas, trazia malas doutros, só a dele é que não aparecia! Aquele tapete fazia-lhe lembrar quando, em pequeno, o carrocel dos cavalinhos na festa da sua terra, mas que nunca montara em nenhum cavalo! Agora, quem se sentia cavalo era ele, a ponto de dar coices era ele. Sua mala nunca mais chegava! Azar foi à beira dele estar um inglês, também à espera da sua pequena mala preta. Ao longe surgiu uma. Aà vinha ela! O português, bem -educado, agarrou-a, mas o inglês tirou-lha: -“É minhaâ€, disse o inglês -“ Fuck youâ€, e “shit for youâ€, reforçou o português, conseguindo a mala. Na contenda a mala ficou sem etiquetas! O português levou a mala para casa. Ficou provado quem em questões Ãnvias é bom saber lÃnguas! ……………xxxxxxxxxxxx……………. Autor: Silvino Figueiredo Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque Gondomar
|