Figas de Saint Pierre de
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« em: Outubro 28, 2015, 11:26:55 » |
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COUSINHA Ele tinha a mania que era detetive. Tão famoso que, antes de o ser era guarda republicano e, um dia, integrando uma patrulha, numa operação stop, mandando parar uma viatura, mandou o seu condutor soprar o balão, descobrindo que excedia o limite legal, incluindo a marca do vinho! -“Ó senhor guarda, mas eu quase que não bebi nada. -“Bebeu , sim senhor e até lhe digo que, pelo cheiro, o senhor bebeu Cantanhede tinto, de 12 anos, com 14 graus de teor alcoólico†Era verdade! Também foi verdade que descobriu que seu chefe era corrupto, porque, um dia, quando o viu entrar no posto, só porque notou que ele cambava mais para o lado esquerdo, descobriu que era devido à carteira recheada de notas de elevado peso! Para não ter chatices, resolveu ser detetive por conta própria, tendo êxito imediato em descobrir corriqueiros casos de traições amorosas. Uma vez, descobriu com quem um marido traidor andava, só pelo facto de ele gaguejar ligeiramente, o que não era normal, segundo a sua esposa. O que acontecera foi que a amante era gaga e o marido traidor, para melhor se fazer entender, por simpatia, aprendera a gaguejar. Foi fácil descobrir, porque mulheres gagas , nas redondezas, só havia uma! O marido traidor. quando regressava a casa sua esposa estranhava sua gaguez!. Alegava que era devido ao seu Benfica ter perdido por três a zero com o Sporting!
O ex guarda GNR, junto dum seu amigo, muito rico, a quem tinha perdoado algumas multas ao seu Jaguar, gabava-se do seu talento; de que era capaz de resolver qualquer enigma. Seu amigo, desafiou-o, já que ele ia a Lisboa, passar férias, encontrar augusta e real cousinha, que ainda pontua no tempo! Se descobrisse pagaria as férias ao seu amigo durante toda a sua vida, em hotéis de cinco estrelas, com tudo, incluindo a famÃlia! Se o amigo perdesse teria que regressar a soldado da GNR! O ex guarda, agora detetive, aceitou o desafio, tal era a confiança que tinha em si. Chegado a Lisboa, passeou por todo o lado e por todo o lado olhava, para ver o que no tempo pontuava, mas nada.
Consultou arquivos. Cheirou os ares. Subiu ao Castelo de S.Jorge, percorreu as sete colinas, conversou com velhos, mas sem obter qualquer pista. Tinha tirado um mês de férias, mas nunca estivera tão concentrado a trabalhar. Todavia, ter férias pagas toda a vida, em hotéis de cinco estrelas, para ele e para sua famÃlia, em regime de tudo incluÃdo, era um prémio tentador. “Augusta e real cousinhaâ€; expressão que ecoava na sua cabeça! Certamente que cousinha seria coisinha, porque seu amigo era um português dos antigos, que dizia cousa, não coisa! Sentia que estava a perder faculdades em deslindar a “cousinhaâ€. Naquele dia, mais uma vez, como qualquer mortal, seduzido pela luz de Lisboa, passeou pela baixa, com todos os sentidos em alerta. Foi então que, estando na Rua Augusta, se lembrou que augusta significava real, por isso real já tinha, faltava a cousinha a pontuar no tempo. Como o arco da Rua Augusta, considerado monumento nacional, estava aberto ao público, não podia deixar de subir ao seu topo e de lá apreciar a beleza do rio e as colinas de Lisboa. Uma maravilha! Tirou, tirou muitas fotos em seu redor, imaginando caravelas e naus a partir e a chegar à quele lugar, até que seis pesadas badaladas, pam, pam, pam , pam, pam, pam, interromperam suas cogitações. Ficou com seus ouvidos a zunir. Finalmente, resolveu descer as apertadas escadinhas de sentido único, a descer ou a subir, até chegar a um átrio, onde, imponente, estava uma máquina do tempo, que violentava o silêncio dos ares! À primeira vista dava a sensação de se estar a olhar para o coração do Big-Ben, em Londres!
Curioso, como todo o detetive deve ser, rodou em volta da máquina, olhava, olhava, até que, nem queria acreditar; Eureka, descobrira! O santo padroeiro dos detetives tinha-o protegido. Numa pequena e dourada chapa, cravada na máquina, bem visÃvel, lia-se que a máquina do relógio tinha sido feita por um mecânico, de Almada, o “Cousinhaâ€. De regresso à Guest Houseâ€, no Largo do Intendente, onde estava alojado, sim, porque ainda não tinha tido proveitos suficientes para estadias em hotéis de cinco estrelas, com tudo incluÃdo, resolveu telefonar ao seu amigo rico, para que viesse, urgentemente, para lhe demonstrar que tinha resolvido o enigma da “cousinhaâ€. Seu amigo, não podia recusar. Foi a Lisboa. Eufórico, com olhar malicioso, seu amigo levou-o à baixa. Ao entrarem na Rua Augusta, seu amigo começou a ficar com um andar mais pesado! Quando convidado a subir ao topo do Arco da Rua Augusta, suas pernas, durante a subida no elevador, começaram a tremer. Finalmente, quando chegado ao átrio, onde estava a máquina do relógio, rendeu-se, nem quis ver! -“Tá bem. Ganhaste. Tiveste sorte. Quanto é que te tenho a pagar pelas despesas das tuas férias e investigações?â€
-“Desta vez não é nada. Só quero, como prometido, que me pagues as férias durante a minha vida, a mim, mulher e filhos, em hotéis de cinco estrelas, com tudo incluÃdo. Deixarás de cumprir o contrato caso o relógio anuncie o regresso de D. Sebastiãoâ€
Dizem que seu amigo teve que vender seu Jaguar e muitas propriedades para cumprir o prometido, não sendo mitigado pela vinda de D. Sebastião.
Os únicos favores que recebia de seu amigo eram os serviços, grátis, da descoberta dos ladrões da fruta dos seus pomares. Ainda pensou em suicidar-se, para interromper as férias de borla do seu amigo, mas achou que seria mais vantajoso, para os dois, continuar vivo!. A sua fruta ficaria mais segura! ………………xxxxxxxxxx…………… Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo (de Vilhena) Gondomar-Portugal Nota: No face está o filme da "cousinha"
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