Géneses

[Bruno Sousa Villar]

para todas as mulheres,
as mães e as filhas das mães



A mulher é dos animais humanos
aquele que dá à luz.


Segundo a teoria científica do Big Bang,
o Universo surgiu como um ponto infinitamente quente e denso,
menor do que uma cabeça de alfinete, que explodiu e se precipitou
num processo de expansão cósmica semeando o firmamento
com galáxias e estrelas semelhantes às que vemos em nosso redor.


Seguindo esta ordem de ideias, a mulher concentra em si
o primeiro nanossegundo a origem do universo.


Logo as lancinantes dores de parto
gritos gemidos e contracções recebem
existência justificada:

Fazer passar um universo através do orifício
de uma agulha encontrada num palheiro é hercúleo

Porque a mulher é dentre todas as criaturas viventes
visíveis e invisíveis a mais rara e enigmática.

Enquanto dá à luz o universo a mulher é vibrátil
sussurra geme grita fala muito alto como uma corda vocal.

Depois serena encolhe-se para tomar o universo nos braços
não tanto espantada da sua força antes aliviada de o poder
mimar e cuidar da saúde à medida que cresce no espaço e no tempo.

Fatigada e sonolenta- custa originar um universo.
adormece num sono musical

Pois o silêncio é a sombra da música e a música
a sombra do silêncio.

Sendo o universo a fusão ampliada das duas coisas.

Recém-nascido o universo jaz no corpo da mulher
esmagando-lhe com a cabeça o peito
à escuta do primeiro ritmo
que há-de ser o seu quando for mãe.

Por ora é uma menina.

Um little bang.