josé antonio
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escrever é um acto de partilha
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« em: Janeiro 16, 2009, 22:22:25 » |
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Como em todos os finais de tarde a sirene tocou e a professora despediu-se com um – até amanhã! – alegremente correspondido pela pequenada. Futuros adultos daà a um futuro e tantos. Teresa, apesar dos seus oito anos não passava despercebida pela sua inteligência, bondade e bom-senso. Qualidade geneticamente herdada ou não, o certo é que as possuÃa e não se lhe podiam retirar. Ainda bem. Para ela e para todos. Por isso, contrariamente aos seus colegas, deixava a sirene tocar e arrumava pacientemente os cadernos, o estojo dos lápis de cores e canetas, e só depois de logÃsticamente encaixados na mochila, abandonava a escola a caminho da casa dos avós para produzir as ordens de serviço da professora para o dia seguinte e aguardar a chegada da mãe ou do pai para a levarem para casa aonde estava o seu quarto refúgio com sonhos de todas as cores e feitios. E sempre na companhia do Zecas – um chimpanzé peluche trazido pelo pai de um paÃs dos muitos que ele visitara, com quem ela dançava quando lhe apetecia, porque fofo, carinhoso e obediente. A tarde estava fria e escura o suficiente para a forçar a apressar o passo até à pastelaria aonde teria de esperar pelo sempre desejado transporte familiar. E foi quando percorridos uns duzentos metros que num degrau mais escondido das escadas que davam acesso a uma-qualquer-coisa-das-finanças que ouvira da boca da mãe, viu uma nota de cinco euros pousada. E hesitou entre o que sempre ouvira como norma em casos daqueles e a realidade que estava a viver – de ninguém estar a observar e não conhecer o dono verdadeiro. Vigiou em redor e perante a ausência de possÃveis testemunhas, pegou na nota. E benzeu-se. E rezou a Deus para lhe perdoar. E ao seu querido São Pedro para não colocar no rol dos seus pecados. Então, porque na hora do lanche e desejosa de batatas fritas, entrou na pastelaria – se calhar mesmo ali colocada para isso -, e pediu à menina do balcão, um pacote de batatas fritas. E pagou com a nota de cinco euros e guardou o troco que ela lhe deu sem conferir, porque para ela ainda tarefa complicada. Meteu as moedas no bolso da bata, rasgou a saqueta das batatas e fez-se ao caminho. Ainda não tinha conseguido deglutir uma dúzia de batatas quando lhe surgiu a Beatriz, rapariga da sua idade, mas sem escola, nem quarto aonde podia dançar com o Zecas, peluche, com o olhar de sempre, triste, e desta vez fixo nas batatas. Teresa, menina inteligente, bondosa e de bom-senso, deu-lhe o pacote das batatas fritas, o troco da nota dos cinco euros e lanchou uma torrada e uma chávena de leite na casa dos avós.
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