O poeta dos quintais

[josé torres]

Galã, altaneiro e respeitado
Era entre seus pares o primeiro
Poeta bem amado
Das moçoilas do galinheiro

O amor e a ventura cantava
Não havia por ali canto igual
Um exemplo para quem amava
Que no amor era mestre afinal

Mas disso não sabia Dª Maria
A patroa daquela pensão
Que nunca ouvira poesia
Mas cozinhava pelo coração

De véspera preparou as facas
Colocou junto o alguidar
Desta noite não passas
Gasta o amor que tens para dar

Assim fez o poeta e galã
Na madrugada que lhe sobrou
Amor não foi palavra vã
Nos ouvidos de quantas galou

No dia certo mas atrasados
Lá apareceram os comensais
Das coisas da vida atarefados
Poetas e outros que tais

Sujeitos a levar com a colher
Que de pau é feita a espera
Na paciência daquela mulher
De pacto com a Primavera

A travessa sobre a mesa fumegando
Em cama de arroz o galo
Deste Minho altaneiro que canto
Na soberba gula de que vos falo

Pica no chão se chama a iguaria
Que se come no sangue cozinhada
Uma especialidade da Dª Maria
Mãe, mulher e cozinheira bem amada

Em Barbudo tem o seu Santuário
Freguesia colada a Vila Verde
De carinho é feito seu receituário
A todos mata a fome e a sede

[josé torres]

Grande Julio, o poema é dedicado à Dª Maria, cozinheira de mão cheia, que ontem nos recebeu em sua casa. Uma tertúlia de amigos que conheces, poetas e artistas.
Flávio, José Lourenço, Silvério Calçada, Rui Mota e este que aqui escreve.
Ao Jaber que não pôde estar presente também dedico esta canção.
Para ti a minha amizade.
Quando cá vieres já sabes o que te espera...

[Orlando Monteiro]

Não conheço a D.ª Maria mas o poema está muito bonito e com muito humor.

Abraço

Orlando

[Goreti Dias]

Mas que se comia bem numa cabidela, comia...

[josé torres]

Orlando e Goreti, estas coisas gastronómicas, sempre bem regadas pelo vinho generoso, fazem do pobre rico e do poeta um vaidoso.
Que me sejam perdoados os pecados no dia que ainda não aconteceu...

[Vanda Paz]

Devia estar mesmo boa, com direito a poema e tudo...

Beijo , amigo Zé