vaza pinheiro
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« em: Fevereiro 14, 2009, 21:36:05 » |
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VERSIFICAÇÃO
A pesquisa, mais ou menos apurada sobre a poesia na Península Ibérica, aceita que a primeira manifestação deste género literário se situa no século XII e no reinado de Afonso VI, rei de Leão e Castela, avô do nosso D. Afonso Henriques. Numa batalha contra os mouros perdeu um filho e chorou assim a sua perda: ai meu filho/ai meu filho/alegria do meu coração e luz dos meus olhos... Quer este rei, quer D. Sancho I contratariam posteriormente alguns jograis para animarem os serões palacianos e lisonjear as damas.
O jogral peninsular era o indivíduo que, inicialmente, andava de feira em feira de alaúde a tiracolo, tocando e cantando alguns versos rimados que recolhia da tradição oral popular. As palavras que acompanhavam a música ainda não tinham expressão autónoma, alindavam, digamos, o ramalhete com que ele procurava vender o seu trabalho. Cinjgam-se a dois versos toantes, isto é, utilizando só vogais nas terminações rimadas. A separação é feita, ainda no século XII, pelos jograis e trovadores da Provença que espalharam pelas cortes de Itália, França, Leão e Castela, a poesia lírica que, pela beleza da forma; graciosidade; ritmo e imagem, não tinha qualquer semelhança com a criação poética desses países, até então. Sem grande contestação, foram os percursores da poesia que viria depois, influenciando tudo e todos, sobretudo, Dante e Petrarca, de quem Luis de Camões recolherá ensinamentos para a sua lírica e restante poesia, mesmo a de inspiração confessional e mitológica. A influência da poesia trovadoresca manter-se-ía activa até meados do século XIV, até ao conde de Barcelos, neto de D. Diniz.
Além do que já foi dito sobre a influência provençal na poesia, há que referir o traço marcante que também deixaram na poesia de todos os tempos. Refiro-me à questão amorosa que atravessará todo e qualquer período estético: desde a escuridão medieval; ao Renascimento; ao Barroco; ao Modernismo e ao pós - Modernismo. Lembro, por exemplo, os romances de cavalaria; el Cid o Campeador; o próprio D. Quixote; Tristão e Isolda; Romeu e Julieta; etc; etc;. Perguntaria: quem de entre nós nunca escreveu poemas de amor, nas várias formas que essa amalgama de emoções comporta? Esclareça-se, no entanto, que esse privilégio das emoções mais interiorizadas era cantado e vivido duma forma unilateral pelos homens. Ele era o centro do mundo e o seu umbigo a estrela cadente que às mulheres só competia aceitar. Camões, diria eu, pensava de igual modo e a sua vida reflectirá até à morte as consequências de tal atitude. Terá a glória (depois de morto); será rejeitado e escarnecido pela mulher dos seus sonhos; sofrerá por essa frustração; verá erguer-se à sua volta um muro de silêncio inultrapassável; destruir-se-á com os desmandos de alguma libertinagem; morrerá na miséria e em extrema solidão.
O termo verso começou por significar, em latim, uma volta de charrua. Só depois, e metaforicamente, começou a ser designado por escrita poética. No corpo do verso tradicional, pontificam a acentuação; as pausas de verso para verso e, por vezes, a rima. Os trovadores utilizavam muito o verso agudo, aceitando, com o tempo, o grave e o exdrúxulo. Na poesia portuguesa, tornam-se correntes os versos de 5, 6, 11 e 12 sílabas; pouco usuais os de 4, 8 e 9; raros, os de 2, 3, e 13 sílabas. Contudo, foram os versos de 7 e 10 sílabas que reinaram a todo o tempo, não esquecendo qualquer tentativa de refluxo.
O pentassilabo é o verso português mais curto, natural e frequente desde o Romantismo, também glosado pelo nosso Camões. O decassilabo quebrado, 5+5,tornou-se versátil em poetas mais recentes. Camilo Pessanha, na Clepsidra, explorou-o com felicidade: Marujos/Erguei o cofre pesado/Lançai-o ao mar. .
O heptassílabo é posterior à época dos trovadores. No Cancioneiro Geral de Garcia de Resende já não tem detractores. Será a arte maior da poesia portuguesa de todos os tempos. Castilho recomendava-o vivamente aos poetas aprendizes.
A quadra é uma estância de quatro versos, designando-se a estância por uma pausa que sucede a um período rítmico e lógico do discurso, também sinónimo de estrofe. Um exemplo: Batem leve, levemente/como quem chama por mim... Até ao século XV, a poesia palaciana utilizou-a menos, chegando a classificá-la como arte menor, em comparação com o decassilabo, incluindo nesta designação todos os versos com menos de oito sílabas: 5 e 7. Os conceitos e formas evoluiram e no século XVII já era considerada como arte maior, uma vez encontrada a redondilha seguindo o esquema circular ABBA. Tornar-se-á a estância de mais agrado para a poesia popular: nas modinhas; cantares rústicos e no fado. Aparece pela primeira vez no soneto pela mão de Sá de Miranda. Daí em diante será preceito obrigatório com a cadência 6-10, quer nas duas quadras, quer nos dois tercetos. Luis de Camões porá um ponto final nas divergências havidas, quanto ao número de sílabas do soneto, fixando para sempre aquela cadência.
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