LIÇÃO DO ABISMO

[Karla Bardanza]

Alguém decida meus passos,
Meus abraços, meu cansaço,
Minha falta de delírio.

Alguém carregue minha bolsa,
Meus livros, minhas contas,
Meus pesos, minha desesperança.

Alguém me faça uma trança,
Me fale de lembrança, me faça
Criança e ilimitada.

Alguém me ponha deitada em
Cama de lua e flor, em espumas
De beijo e esplendor, em desejo
Atrevido de prazer.

Alguém me abra a porta, o coração,
A alma, o peito e as mãos.

Alguém encha minha barriga de vida
E a minha cabeça de sonhos.

Alguém me absolva dessa carência
De vida, desse cruel desassossego
De mulher-mãe-profissional-dona-de-
Casa-filha-tia-amiga à beira de um
Ataque de nervos.

Alguém me desproteja de mim mesma.


Karla Bardanza

[António Lóio]

Karla
Não ponha na mão de outros a responsabilidade da sua felicidade. Nós próprios temos de fazer por isso.
Poema em jeito de apelo.
Parabéns
Tom

[Goreti Dias]

Intenso apelo esse! Podemos decidir-nos a fazer isso por nós mesmos!

[Karla Bardanza]

É apenas um poema...com cara de apelo!

[Abgalvão]

Alguém me abra a porta, o coração,
A alma, o peito e as mãos.

Alguém encha minha barriga de vida
E a minha cabeça de sonhos.

Revolta, apelo, desejo, desilusão, esperança...tudo isto muito bem condensado neste excelente poema.
Cumprimentos
Abgalvão

[Joaquim Sustelo]

Sim, penso que podemos decidir-nos a fazer isso por nós mesmos, como alguém já disse.
Beijinho
Sustelo

[Vóny Ferreira]

Todos nós passamos momentos de melancolia
profunda e quando assim é as palavras ganham
uma dimensão que tem tanto de alarmista como
de intimista.
O desassossego de uma alma, ficou patentiado
nestas palavras tristes.
O amanhã já chegou, certamente...
e tu, Deusa, continuarás a escrever belos poemas
de amor e esperança.
Assim o espero.
Com todo o carinho,
Vóny Ferreira