Saudades de ser poeta

[JLMike]

Tenho saudades de escrever.

Saudades da caneta vermelha
Que no papel se expressava,
Saudades da areia
Onde com os dedos tentava
Pintar palavras que ainda não conhecia.

Tenho saudades de, a giz,
Desenhar a minha vida,
De, com o meu próprio sangue,
Na parede, despejar uma morte sentida.

Saudades dos tempos outros
Onde era a criança que mandava,
Sempre fiel a mim mesmo,
Fiel a uma morte lenta e brava.

Cansado dos pensamentos
Que na cabeça perduravam,
Triste nos momentos
em que eu e eu me abraçavam.

Feliz em horas poucas,
em part-time, como dizem.
Envolto em angústias loucas
Das vozes que me soavam roucas
Em tudo o que me pedissem.

Tempos de inocente felicidade,
Cegueira de miudos.
Tempos da mais ingenua ingenuidade,
Que ainda perdura quando graúdos.

Tempos distintos e iguais ao presente.
Um tempo de outrora, um tempo diferente.
Onde pegar na caneta era facil
Bastava em branco colocar a mente.

Maluco por dentro, por fora ciente
De que não era mais que um demente,
Que um homem não chora, que um homem não sente,
Que homem é aquele que faz frente
Aos ventos e aos mares,
Às terras e aos ares,
A tudo e a todos.

E só depois se descobre,
Muito depois de cortada a meta,
Que antes de Homem,
Sempre fui um poeta.

[João Videira Santos]

Li, concluindo que é feliz o "desenho" da ideia (ou da inspiração) transcrita.

[Goreti Dias]

Antes assim... melhor um poeta que um homem que não chora!
Um abraço

[Zélia]

Muitas vezes sentimos saudades de fatos passados...sem nos darmos conta do presente tão rico em nossas mãos...O seu poema é muito bonito...Inspiradíssimo! Beijos, querido poeta...