carlossoares
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« em: Outubro 27, 2009, 14:50:39 » |
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Estava a disputar o último set quando vi entrar uma jovem numa cadeira de rodas empurrada por uma mulher bem vestida e calma, de farta cabeleira e uma touca branca. Enfermeira? -interroguei-me. Parou de empurrar a cadeira e depois de trocarem algumas impressões entre elas, a mulher de touca branca rodou a cadeira de rodas para uma posição frontal relativamente à área do jogo. Agora já estava a reconhecer a mulher da touca branca. Era a mesma enfermeira, Cândida, que me tinha ajudado a recuperar de uma luxação gleno-umeral traumática. Terminado o jogo, ao passar junto delas, apercebi-me que a enfermeira também me reconhecera: -Bom dia! Como está? -Tudo bem, obrigado! Neste momento inclinei-me ligeiramente para a jovem na cadeira de rodas e cumprimentei-a. A enfermeira Cândida fez as apresentações da praxe «Dr. VerÃssimo, ilustre advogado, eh,eh,eh!» «Drª Teresa, antropóloga, doutoranda». Estendi a mão para dar um passou bem à Drª Teresa, mas ela nem se mexeu. Olhou-me com uns olhos brilhantes e afáveis. -Não se preocupe, disse eu, eu compreendo, não tinha reparado. -A Drª Teresa vai permitir que lhe fale neste assunto: está assim porque foi vÃtima de um crime grave. -Como? –perguntei. A enfermeira Cândida olhou para obter aprovação da Drª Teresa para continuar. - Quando ela estava a dormir, o marido atirou-a do terceiro andar para a rua. Fiquei estarrecido. Olhei para Teresa, mas ela desviara o olhar para algum lugar estranho que a fez empalidecer e semicerrar os olhos de dor. - Continua a praticar ténis? – continuou a enfermeira, para desanuviar. - Ah, sim! Agora menos. Só para manutenção. Pousei a minha mão na de Teresa, que não esboçou nenhuma reacção. - Tive muito gosto em conhecê-la. Lamento profundamente o sucedido. Gostava de ajudar, se puder! - Depois entro em contacto com a enfermeira Cândida. Ainda tem o mesmo número? - Sim, sim, é o mesmo. Tudo igual. -Até logo. -Até logo Dr., prazer em vê-lo. -Obrigado, igualmente.
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