A CULPA É DOS OUTROS
Estamos num paÃs e numa época como nunca houve, se exceptuarmos, talvez, o apogeu dos Descobrimentos. Por isso, não concordo com aqueles que continuam a apregoar as misérias que dizem existir na sociedade portuguesa pintando-a com tons miserabilistas e caóticos.
Nunca como hoje se pôde ganhar tanto dinheiro (e gastá-lo), comer e beber à grande, vestir, gozar, enfim, fazer o que a cada um apetece. Se há quem não ganhe bem, é porque ou não é esperto, ou não quer trabalhar; se há quem não coma do bom e beba do melhor, é porque se preocupa com coisas bem menos importantes; se não veste de marca ou passa os dias a cismar, ninguém tem culpa disso.
De facto, se há miséria, é porque há miseráveis de que ninguém tem culpa de terem vindo a este mundo. Se há desempregados, é porque cada vez há mais gente a querer ser doutor e a recusar o trabalho. Se existe muita gente a viver em barracas, é porque ou não sabe viver em casas decentes, ou faz disso um negócio (têm uma casa ou um andar alugados), ou ainda porque não poupam para adquirirem uma casa. Se há gente a viver na rua e a dormir ao relento, fazem-no ou por mania, ou porque não se querem sujeitar às regras da sociedade. Como se vê, caro leitor, para tudo há uma explicação lógica.
Não venham por isso, agora, os moralistas, querer insinuar que são as leis que estão mal, ou que é a gente bem que explora o povo ou outras histórias parecidas e já com muito bolor. Quem quer mesmo, sempre consegue. Os outros, coitados, tenho pena mas não posso fazer nada por eles.
Por isso, leitor, se é dos meus, não se deixe impressionar por aquelas vozes agoirentas e dedique-se de alma e coração a fazer pela vida, contra tudo e contra todos e a qualquer preço. Se assim não fizer, tiver escrúpulos e se se puser a reparar nos outros, mais cedo ou mais tarde virá a tornar-se um deles. E nunca se esqueça: se quiser ser respeitado e temido, olhe para o alto, ganhe muito dinheiro e mostre que o tem. Só assim lhe tirarão o chapéu e a memória o recordará.