Oswaldo Eurico Rodrigues
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Amo a Literatura e as artes.
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« em: Novembro 29, 2009, 20:14:50 » |
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Sob o céu de brasas caminha sofrida e solenemente a nobre criatura de grandes marfins com o Kilimanjaro por testemunha. Nesse dia invadiu a savana a tudo destruindo o terrÃvel animal que não se curva. Onde ele pisa, o que é bom acaba. Quando esse bicho terrÃvel se aproximou montado num trovão andante, todos fugiram apressados com terror. Nem todos foram tão rápidos. O mais velho dos elefantes não tinha mais forças para correr. Foi horrÃvel! Um estouro seco se ouviu e um gigante foi ao chão. Um bramido foi ouvido por toda a Ãfrica. O mais respeitado ancião dentre todos eles acabou de morrer. Até as montanhas choraram. A morte desse velho elefante foi como o apagar de um imenso arquivo. A memória de um tempo feliz foi embora com o corpo inerte. Quem levará aos mais novos o conhecimento de um tempo em que a Ãfrica não era habitada? Se aos homens fosse permitido saber a lÃngua dos paquidermes, contaria de uma Ãfrica ancestral à Humanidade. Mas não nos foi dado à faculdade de entender nenhum animal ou plantas. Alguns de nós tentamos apreender algo. Eu, do meu jeito, resolvi contar do que sinto pelo maior de todos os mamÃferos terrestres. No princÃpio era a Terra uma grande massa continental chamada Pangéia (estou citando de uma teoria como quem diz de uma mitologia). Os continentes foram se dividindo em blocos. Um desses chamava-se Gondwana e era formado pela América do Sul e Ãfrica. Basta ver os encaixes perfeitos entre a costa brasileira e o Golfo da Guiné. Nesse tempo a Ãfrica era um continente verde e sem desertos onde viviam grandes animais. Até que os primeiros homens começaram a dominar o fogo (nem esperaram Prometeu ensiná-los) e a domesticar os animais. A teoria da deriva dos continentes diz que a humanidade surgiu depois de separados os atuais blocos continentais. Não sei. E nem sei quanto tempo isso levou. Creio em outras coisas, mas o encaixe me deixa encafifado. É perfeito. Isso é para uma outra discussão. Quero agora escrever de como penso que a vida deveria ser feliz quando os elefantes reinavam na Ãfrica. Isso mesmo. O rei para mim é o elefante com seu porte majestático. Se pudesse deles ouvir certamente, me contariam de se seus santuários profanados, de seus filhos vendidos para os circos (dos horrores) espalhados pelo mundo. Diriam de como a comida e a água eram fartas. Diriam do seu governo justo e equilibrado. Suas fêmeas, excelentes mães, tinham tempo para cuidar dos seus filhotes, mas hoje têm de fugir a todo instante das bestas feras que assolam as reservas nacionais. Os machos lideravam um clã. Hoje se submetem ao jugo arbitrário da sobrevivência sem seus familiares. A disputa entre indivÃduos do mesmo sexo não mais garante a procriação, mas sim a mera sobrevivência, mormente de si mesmo. A posteriori talvez a dos membros de sua famÃlia. Os elefantes vivem ameaçados de extinção como tudo de melhor sobre a Ãfrica e sobre o restante da terra, mas resistem nobres, fortes e mansos sem serem submissos. Os fortes pela própria natureza sabem que não precisam exibir seu poder. Os mais fracos sim. A todo custo usam de artifÃcios para usurparem o direito de dominar. Uma coisa eu aprendi com os elefantes. Não é preciso dizer que é forte. É preciso ser forte e pacificamente resistir pelo valor que se tem. Derrubem arbitrariamente e sorrateiramente um elefante. Evidentemente atirando-se à distância ou pelas costas. Não sobrará vestÃgio de sua carne e talvez também não de seu couro, mas seu marfim estará nas mais finas esculturas e no teclado dos mais afinados pianos assim como sua memória e seu bramido ecoarão para sempre na cabeça de quem os confina e mata.
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