Cláudia Isabel
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« em: Agosto 22, 2010, 16:22:28 » |
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De mansinho, entrou em sua casa, como o pôr-do-sol havia chegado, mais um dia de trabalho estava terminado naquela firma de 5ª categoria. Sentia-se protegida naquilo a que se costuma denominar de lar doce lar, para trás ficaram as vozes irritantes e mesquinhas que dia inteiro a martirizavam com pedidos esfumaçados entre passas de cigarro, os guinchinhos medonhos de uma secretária ao serviço dos apetites do seu patrão num compartimento fechado( que deveras exibia pernas e mamas como se exibe o peixe no mercado), como as coisas se fazem tão as claras, pensava ela, vem vestida daquele jeito e ele é só descarregar... Os seus pensamentos foram interrompidos por um outro, fora visitar sua mãe ao hospÃcio. Esta tornara-se uma pobre alienada após o traumatizante assassÃnio de seu marido, havia já 6 anos.
Uma noite marcante que provocara em mãe e filha sequelas profundas, mas Amantina era mais forte, sua mãe, não, sempre fora uma fraca, mesmo quando o marido lhe batia. Mesmo assim encontrar o marido morto em casa por um murder que havia perpetrado um corte desde o pescoço ao ventre na longitudinal, arrancado de seguida os órgãos e espalhando-os pelo quarto como se de amendoins para macacos se tratassem, ver sua boca, sem dentes que juntamente com a lÃngua pairavam num lÃquido viscoso num frasco perto do seu cabelo que havia sido arrancado ainda ele respirava, as pernas com nódoas negras, e um aviso no espelho "Um a um todos pagarão por negarem a verdade das suas vidas", era por demais.
O pai batia brutalmente na mãe seria este o significado, ou Um a Um, se referiria a elas. D. Helena fora para o hospÃcio, D.Bernardo para o cemitério, o caso para a polÃcia judiciária e a casa encerrada a sete chaves como um cavernoso assombrado onde mais ninguém ousara entrar.Amantina, enfim, é mais dura mas quebra, sai do escritório, vai ver a mãe, o pai ao cemitério, e volta para o seu apartamento com cheiros orientais e cores vermelho-preto simbolizando a morte e sangue e "um dia vingarei tudo isto".
Aquele apartamento onde vivia sozinha somente com as suas memórias, era o seu refúgio, era ali que finalmente depois de um longo dia ouvindo o azedo e amarelo patrão da firma Sabonetes Limitada, se recolhia nos seus próprios braços e chorava até madrugada, embrulhada em álcool, cigarros e uma lâmina que sofregamente lhe arrancava pedaços da vida e da alma. Existem várias formas de dor e Amantina que já não suportava a da alma, matava-se no corpo numa morte lenta e sem pena. Depois de manter uma aparência socialmente correcta com meia dúzia de bons conselhos e sorrisos encantadores marcados pela sua extrema beleza, depois de convencer o mundo da sua perfeita saúde, voltava a casa, e enchia-se de barbitúricos que tinha comprado ali na esquina. O corpo agora é que pagava e já fazia ressentir o seu mau estado. Por mais que escondesse os seus estranhos hábitos denunciavam-na, nunca saia a noite, nunca usava t-shirts, saias ou calções mesmo que fosse Verão. Os amigos esses sabiam que se passava, toda a gente comentava mas ninguém ousava fazer algo, idolatravam somente a mulher, que encarnando uma personagem dócil e boa conselheira, findava os seus discursos como um colete salva-vidas na vida dos outros que não ouvem a vida de quem os ouve.
Só uma pessoa teria chegado mais fundo e a tentara ajudar: o seu namorado Manuel.
MAS ALGO ACONTECERA ENTRE AMBOS DE TAL MODO QUE MANUEL HAVIA DESAPARECIDO.....
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