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« Responder #61 em: Novembro 17, 2010, 16:39:01 » |
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As primeiras cinco cartas a concurso!
Não é permitida a divulgação do nome dos autores até à publicação do resultado do concurso.
Carta n.º 1
Lisboa 25 de Outubro de 2010
Minha querida amiga
Espero que estejas melhor de saúde, fiquei e ainda estou incrédula com as ultimas noticias sobre essa tua maleita, mas como me conheces bem não resisti a enviar-te o 1º episódio da Fábula que te falei. Conto que neste episódio dês umas valentes gargalhadas pois se não te fizer melhorar fisicamente de certo o fará à alma.
O curral das ressabiadas
Dona loba era a fazendeira, a dona de uma grande quinta e que tentava manter limpa, organizada e acima de tudo, que todos os animais que recebera nas suas instalações fossem felizes e vivessem na paz dos Deuses. Durante vários anos sempre com o seu vigor foi alimentando, tratando das suas companhias mais que preciosas. Não se privava de nada. Era feliz na companhia da sua mana mais nova, a linda Karoxa que adorava dar “beijokas fofas nas boxexasâ€. D. Loba a caminho da meia-idade, ou da ternura dos quarenta como lhe queiram chamar, sofrera durante anos a fio a desilusão de um grande amor, tendo como sua companheira fiel a ansiedade que a levou a ganhar um disparate de peso a mais. Deixando a sua preciosa quinta aos cuidados da sua mana, sujeitou-se a uma transformação radical, uma metamorfose extrema tal como a sua mana Karoxa o fizera outrora. Se antes D. Loba chamava à s atenções mesmo exageradamente grande mas com atributos de deixar até os mais novos a babarem, agora que voltava à s elegâncias dos seus 20 anos, na quinta todos andavam num desassossego feroz. D. Karoxa não se ficava atrás, também ela voltara à s suas formas de adolescente, misturando com a sua forma de ser rebelde, louca mas muito meiga, tão meiga que à s vezes os outros animais chegavam a confundir a sua meiguice e amizade com outras “coisitas†que nada tinham a ver com a sua forma de estar na vida. E nem imaginam como as outras fêmeas da quinta se contorciam de inveja. Faziam de tudo para chamarem à atenção dos machos, exibiam-se, por vezes subtilmente, até se oferecerem a todo o gás, mas eles só tinham olhos para a D. Loba e D. Karoxa. Na quinta existia um Cabritinho lindo, nascera já com aspecto de modelo profissional, com uma aparência sempre muito bem cuidada e agora que se estava a tornar forte, com porte, tanto a Cabrita Loira como a Ãguia Louca não se cansavam de o perseguir. Coitado do Cabritinho já não sabia onde se enfiar para se esconder das duas stockers loucas que não lhe davam descanso nem de noite, nem de dia. D. Loba e D. Karoxa tentavam a todo o custo manter a ordem na quinta e enquanto D. Karoxa ia dizendo as verdades, dando na cabeça, puxando as orelhas e ameaçando que ia chamar a D. Loba para dar com o seu famoso “xinelo†nas desmioladas, assanhadas, o Cabritinho ia chorando as suas mágoas no colo de D. Loba. A Ãguia Louca, ave sabida usou das suas artimanhas para tentar captar a atenção do pobre Cabritinho e assim colocou as garras de fora, pôs-se a trabalhar e sem pedir licença a ninguém criou um clube de fãs no Face-Book para o Cabritinho. Entre o ficar envergonhado e com o ego na lua o Cabritinho até gostou da ideia só que, apesar de ficar eternamente agradecido, não demonstrou qualquer interesse com assuntos que a Ãguia Louca queria levar a cabo com esta artimanha.
Amiga, por hoje é tudo, para a semana que vem enviarei o 2º episódio.
Da tua amiga que nunca te esquece, que te mantém no coração,
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Carta n.º 2
Lisboa 2 de Novembro de 2010
Minha querida amiga
Fiquei feliz por teres gostado da Fábula e tal como te tinha prometido, nesta carta envio o 2º episódio.
O Curral das ressabiadas
É claro que a Cabrita Loira se aproveitou da situação para fazer cerco ainda mais cerrado, enviando mensagens, fazendo-se de infeliz, com pena dela própria chorando à frente de todos num verdadeiro cantinho de lamentações em que por mais que fizesse o seu “amor†não era correspondido. Fazia de tudo, até elegera o Cabritinho a Muso Oficial da Quinta mas ele não a compensara da forma que ela esperava. Vendo o pobre Cabritinho em total desespero, encurralado pelas duas fêmeas que não se cansavam de o perseguir, as manas juntaram-se e entraram no Clube de Fãs para manterem a ordem e protegerem o seu Cabritinho. O que ninguém esperava era que com tantos cuidados uma história tórrida, louca quente e abrasadora estava a nascer pelos animais que menos se esperava que fossem intervenientes. D. Karoxa não tinha mãos e palavras a medir, recebia confissões de paixões por parte dos outros animais que se iam encantando uns pelos outros sem que desconfiassem. Coitada da D. Karoxa com tantas lamúrias daqui e dali já nem sabia o que era dormir. Já nem se lembrava do que era deitar-se cedo e acordar no outro dia a meio da manhã. Se agora conseguisse dormir 2 horas era quase um milagre, tal era, coitada. Por outro lado o Cabritinho descobrira o fascÃnio que uma fêmea mais velha podia exercer, deixando todas as suas hormonas saltitantes em forte curto-circuito fazendo-o procurar o colo de D. Loba para se acalmar. Apesar da compreensão, dos conselhos de D. Loba, do abraço forte que esta tinha, não era indiferente o calor que ambos sentiam quando estavam juntos. Quando menos esperavam foram assaltados por uma febre invasora que só acalmava quando os dois ficavam juntos. Tudo isto não era normal, D. Loba sabia exactamente qual a doença que ambos padeciam e não havia cura. Os sintomas eram terrÃveis, calor, desejo incondicional, loucura e tudo causado por esta maleita, A PAIXÃO! Pobre D. Loba, morria de preocupação como é que a vida lhe pregara uma partida destass e ainda mais por um Cabritinho de Leite! Ai o que iriam dizer dela, PEDÓFILA! De certeza que lhe iriam chamar assim. Mas por muito que combatesse este sentimento quando menos esperou viu-se envolvida num louco tango selvagem com o seu Cabritinho. A coisa era tão intensa, tão efervescente que ambos quando se falavam no xat de Portugal o Normal, já planeavam em afastar os móveis da sala para que não houvesse mais estragos dentro do covil. Agora sim, as outras duas estavam piores que ursas, choravam baba e ranho de todo o tamanho, faziam-se de vitimas, imploravam, enfim faziam um choradinho de meter dó, coitadas das ressabiadas! A vizinha do lado não se ficava atrás, tentava tudo por tudo, pobre vaquinha, bem que queria canalizar todas as atenções para si enquanto confessava que o seu companheiro, o Sr. Porco já ressonava que nem ele próprio. E dia após dia lá vinha ela ao fim da tarde à s vezes com histórias mirabolantes, sem pés nem cabeça, na esperança que alguém da quinta lhe desse a atenção que pretendia. Entre todos na quinta andavam a tentar tirar à sorte quem é que a iria aconselhar a ir ao veterinário pois desconfiavam que a pobre vaca estivesse já com uma ponta de BSE.
Amiga, para a semana que vem, enviarei o 3º episódio.
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Carta n.º 3
CARTA RACIONAL
Cara Razão,
É com pleno e puro agrado que te escrevo esta carta, a ti que estás em mim numa tal omnipresença que nada mais existe a não seres tu. Escrevo-te com o objectivo de me aproximar por via das palavras do Sol inatingÃvel mas que me vai, quando possÃvel, iluminando. Quando me deixas na escuridão lágrimas vão caÃndo como uma cascata de um rio outrora calmo, de corrente súbtil. O meu coração, em vez de sangue, bombardeia todo o tipo de sentimentos e emoções desencadeando posteriormente em sofrimento ou em vulgar felicidade – que não é mais do que outro género de sofrimento. Tu sabes, minha cara Razão. Tu sabes que quando me abandonas, por motivos que te são alienáveis, eu deixo de ser o ser que vai escrevendo esta carta, para ser o ser que vai lendo-a, inundando-a de paixão desesperante. Por este meio, penso (lá está, penso!) poder criar um elo de ligação imutável, indestrutÃvel e inseparável que consistirá por conseguinte numa constante troca de correspondência; mantendo, por sua vez, o rio o seu percurso esperado, sem desagradáveis surpresas. Quero-te (se quero tenho que poder) como o meu maior amor, como a natureza que vai controlando a corrente da minha vida tão verdadeira e correcta quanto puderes. Não deixes que os teus malditos adversários me conquistem, porquanto eu sou teu, não naturalmente, mas por arte; nasci terra de ninguém, fui proclamado pelos demónios das sensações e depois de numerosas e árduas batalhas fui conquistando a minha independência com o intuito de entregar-ta a ti, minha mais-do-que-tudo. Não obstante o inimigo estar não raras vezes à espreita, acredito nas tuas capacidades bélicas de me defender dele e das suas prazerosas e indiscutÃveis tentações. Acredito e pretendo que esta carta reforce toda a tua confiança, que apesar de inabalável, é necessário ter em conta toda a precaução, pois se és confiante podes não ser o suficiente (ou não o ser eu) para me transmitires por inteiro e sem hemorragias pelo meio essa confiança. Querida Razão, as tuas armas são-me indispensáveis e não as quero perder pois a guerra só terminará na morte. Pensamento, ponderação, análise são das armas mais importantes contanto não deixarem de ser mais sofisticadas, eficazes e superiores à s armas passionais do inimigo. Peço-te portanto que não deixes de trabalhar nelas e, no que me diz respeito, vou também ajudando utilizando-as da melhor maneira possÃvel. Creio que juntos vamos conseguir ser melhores! Por fim, terminando como iniciei, declaro todo o meu amor por ti, sabendo eu que é recÃproco. Ambos, também o sei, entendemos que este amor não é o Amor que o adversário nos tenta impingir, mas um amor mais alto, mais além, incomensurável. Minha Razão, a ti me dedico, o mesmo é dizer, que a mim me dedico. Juntos somos Uno, juntos somos mais e mais.
Assim me despeço.
Para sempre teu,
O Corpo.
Data: Algures na Intemporalidade.
Carta n.º 4
Ah, Mundo...
Cresce em mim a saudade de ti! Não te vejo há muito. Este quarto exÃguo tornou-se toda a minha realidade... Eles dizem que sou perigoso, incapaz de funcionar em liberdade nas tuas ruas, na superfÃcie que dá tapete ao formigame humano. Temo jamais regressar a ti. Perdoa-me não preceituar esta carta com a usual data que inicia qualquer documento, mas a verdade é que me perdi no tempo há muito. Não se contam aqui os dias nem os meses. O fundo branco e almofadado das paredes que me cercam neste âmbito faz-se também cárcere do tempo, encurralando a sua essência no esquecimento de que padeço. Pois é... parece que a minha soledade se tornou completa, abarcando ambos espaço e tempo, os dois hoje tão longe de mim. Esta manhã permitiram que eu escrevesse. Ouvi-os deliberar. Parece que vêem na escrita uma âncora no real, um exercÃcio à mente que promove benefÃcios e progressos. Libertaram-me da firme indúvia que me tinha de braços imóveis e trouxeram-me papel e lápis. De repente, eis que este angustioso espaço deixou de me confinar por inteiro; prende-me o corpo, mas não a opinião, livre de voar através da palavra, ainda que somente de existência depositada numa folha. A palavra é força. Se a uso, meu espÃrito agiganta-se! Em oposto, usam aqui palavras que me fustigam, vis ferramentas da arrogância. Sim, eu ouço-os, à s vezes, falando entre si. Cospem termos como “psicose†e “demênciaâ€. Mencionam-nos na terceira pessoa, alheios, tal qual se refugiados no anteparo da sua presumÃvel sanidade mental. Esquecem-se de que são carne semelhante à que me reveste, igual matéria. Não equacionam sequer a possibilidade de ser ténue a diferença entre a minha loucura e a deles, de que dementes todos o sejamos, partilhando um mal comum de dÃspares sintomas... e os meus apenas dêem um pouco mais nas vistas. Oh, Mundo que me fugiste, será que ainda esperas por mim? Reconhecer-me-ás no dia em que eu pisar teu chão novamente? São essas questões a razão da minha missiva. Por dentro sofro e sangro. Poderei ainda fazer parte de ti? Desejo-o tanto! Quero voltar a saborear o sol, a calcorrear pelas areias da praia, cheirar o limo do mar a olhos fechados. Quero ouvir vozes e risos. Quero viver. Tenho de partir daqui. Preciso de urgente liberdade, antes que a insânia que nego acabe por me engolir e eu me torne, de facto, no louco que me acusam de ser. Como é curioso sentir, Mundo, que embora esta sala me prenda, és tu quem verdadeiramente me tem cativo. Não me podiam privar de ti. Não tinham esse direito... Desvalorizaram-me. Julgaram-me uma simples mente vazia perdida para o marasmo e a incapacidade. Erraram. Cometeram um só lapso, pequenino, tão subtil como um magro fio de malha, mas pela ponta de um fio solto se começa a desfazer o mais grosso tecido. Não deviam ter-me posto este lápis na mão; sua cúspide pode assumir-se arma mais séria que a mera escrita que capacita... Ouço alguém chegar. Deve vir em rotina, para verificar se me encontro plácido, escrevinhando rabiscos ao sabor da displicente falta de tino. Aperto o objecto com força, nele esmagando as mais recalcadas frustrações, e cerro os dentes enquanto aguardo que abram a porta. Meu visitante terá a amarga saudação de um frio golpe; depois, uma corrida pelo corredor levar-me-á a rua e... ah, Mundo, velho amigo, começo a sorrir, creio que nos iremos afinal reencontrar em breve...
Carta n.º 5
Contando os dias Meu estimado marido, aproveitei que as crianças já dormem para te redigir mais esta carta, desta vez de coração garroteado. Não vale a pena expressar por palavras o quanto sinto a tua ausência, e o vácuo que deixaste nesta casa. Sei que faltam escassos meses para voltares para a tua famÃlia e para o conchego do teu lar, e que tudo o que estás a fazer é para nosso benefÃcio e felicidade, todavia, desde que partiste, com pesar no olhar, que as noites para mim são uma eterna angústia mesmo sabendo que a lua que vejo é a mesma que tu vês. Hoje estou particularmente frágil e sensÃvel, quiçá por se avizinhar o Natal, e ser o primeiro, em seis anos, que não o passamos juntos. Não há um dia que não me sobressalte sempre que o telefone toca, não há um dia que não anseio por meter a chave na caixa do correio sempre que chego a casa à espera de palavras escritas pela tua mão. Receio sempre más notÃcias meu homem, e, mesmo que a missão que cumpres seja de louvar, heróica até, o paÃs nunca conseguiria compensar tamanha perda se voltasses derrotado dentro de um caixão... Quantas noites sonho com essa guerra que não te pertence… Sonho com gente mutilada, com tiros e feições desesperadas, realidades que só a televisão me dá a conhecer… Devoro todos os noticiários espavorida e abraçada à almofada… Suspiros enchem o meu peito cada vez que fixo as nossas molduras!.. Mas deixa-me contar-te como vão por aqui as coisas. Os meninos vão bem na escola e a professora de música do Daniel teceu-lhe elogiosos comentários. Diz que ele tem um ouvido fora do comum para a idade e um sentido melódico extraordinário. A Rita continua a melhor aluna da classe, como sempre e vai muito bem no ballet. Temos dois filhos maravilhosos, que todos os dias perguntam se falta muito para o teu regresso. Quanto a mim, vou riscando no calendário que está atrás da porta da cozinha cada dia que passa. Para eles, chegou o entusiasmo natalÃcio, e esta é última semana de escola. Já adornaram a árvore de natal e fizerem o presépio sozinhos... Gostava que visses como ficou bonita!.. Só faltam as prendas, e este ano não lhes posso dar o que pediram, vão ter que se contentar com pouco que posso dar, a não ser que a madrinha deles seja este ano generosa e que não se lembre de lhes dar bÃblias ilustradas e pares de meias como no ano passado. Lá querem os miúdos saber de ilustrações religiosas e, para meias, graças a Deus ainda temos dinheiro! Há-de levar o dinheiro todo para a cova a sovina e, ainda por cima sempre com queixumes que a vida está má!.. Mas para a igreja nunca lhe falta dinheiro! Bem sei que tem uma reforma choruda dos anos que trabalhou lá fora!.. O padre Francisco é que a sabe levar… Veremos se dá uma alegria à s crianças este ano… De resto os dias sucedem-se com a normalidade possÃvel, passo os dias no fundo de desemprego, envio currÃculos dos quais não tenho retorno, vou dar uma ajuda à minha mãe (o meu pai continua sem melhoras e ela não lhe consegue fazer a higiene sozinha), vou buscar os miúdos à escola, vou ao supermercado, enfim... Volta depressa marido, que morremos de saudades e precisamos de ti aqui! Ainda que me sinta um tudo-nada aliviada sempre que te escrevo, e até poderia passar a noite nesta cama vazia a escrever-te, vou ter de terminar por aqui. É que já sinto os olhos humedecidos e não quero molhar estas palavras com as minhas lágrimas.
Com amor,
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