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Autor Tópico: Concurso "Cartas ao desbarato"  (Lida 131555 vezes)
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« Responder #195 em: Fevereiro 07, 2011, 17:57:52 »


Carta n.º 16

Meu Irmão

Meu irmão, estás longe.
A distância que nos separa, não é grande, mas para mim, tornou-se enorme.
Partis-te há muitos anos, e eu, sem que me apercebesse, construí, dentro do meu peito, um muro intransponível, marcado com a palavra saudade.
Madrid, amaldiçoada essa cidade que te acolheu e nunca mais te devolveu ao teu País.
Lá longe, foste adoptado por seres que não conheço. Queira Deus que sejas feliz. Sofro só de pensar o contrário.
Quero que o maldito tempo pare e me carregue para o passado.
Recordo com nostalgia, as duas crianças, inocentes, que davam as mãos, a caminho da praia, rindo, como as flores sorriam para nós, à nossa passagem.
Lembras-te? Lembras-te… Quando a tua pequenina mão apertava a minha, num gesto de carinho, e me dizias: “Vamos embora mana, já é tarde.â€
Não, meu irmão. Naquele tempo, nada era tarde. Éramos somente duas crianças, que caminhavam impelidas pela força do tempo.
Hoje… O tempo teima em parar. O meu fim está próximo, e não te tenho junto a mim para te poder abraçar.
Urgem as horas e os dias. Contudo, a misericórdia de Deus é enorme. Sinto que, não seremos cobertos pelo manto do silêncio, sem antes leres esta carta, para saberes o quanto te amo.
   Esta é a carta de uma irmã que sofre a tua ausência.


Carta n.º 17

Minha FILHA

Hoje… Sim, só hoje, depois de tantas e tantas noites passadas em claro, debruçada sobre o velho e carcomido caixilho da janela, falando para as estrelas.
Sabes… Ou talvez nunca venhas a saber, conto às estrelas a saudade que me devora as entranhas. Conto àquela estrela que me parece mais próxima de ti, a tristeza de não poder abraçar-te.
Recordas-te? Já foi há tanto tempo… Já lá vão dez anos, dez anos passados na minha triste memória, que partiste em busca de riquezas. Nunca mais ouvi a tua voz, quando me chamavas “mãe.â€
Partiste, e nem uma simples carta, nem um mísero postal, com a tua letra. Nada tenho, que me faça recordar a tua presença nesta casa.
Agora, sozinha, tendo por companhia quatro paredes, e a ingrata solidão, abomino o momento da tua partida. Desprezo o oceano que te transportou para o outro lado.
Sim… A distância é medonha para mim, velha e tão carcomida como o caixilho da minha janela, vendo aproximar-se o fim da existência. Meu Deus… Tão próximo o momento final.
Hoje… Finalmente criei coragem, e resolvi deixar latente, numa folha de papel, o meu sofrimento.
Tão logo!... Sei que a lerás. Porem, esse dia será tardio.
Tardio para poder sentir o teu rosto colado no meu, e, pronunciar a palavra “minha filhaâ€.

Carta n.º 18


É sempre Agosto
 

Era Agosto, amor…quando os nossos olhares se cruzaram e as palpitações se agitaram

nos corpos adolescentes em fulgor.

Beijos de fugida, sonhos inocentes no presente sem cálculos futuros. As danças ao luar na melodia cantada pelo violinos que ambos orquestrávamos. As manhãs ao sol banhadas pelas águas mornas no deslizar das alegrias que inventávamos para nos cobrimos de calor. As fogueiras onde cantávamos em conjunto para depois fugirmos no abrigo das nossas ilusões.

Distribuímos sorrisos, ousamos tocar as silhuetas na descoberta do império dos sentidos. Os dias solarengos embrulharam delírios. As mãos dadas em passeios pelo areal por noites estreladas, e quando as brisas refrescavam o meu corpo o teu abraço acalentava todos os poros infindos da pele.

Os hemisféricos rodaram e o Verão vestia o Outono…partis-te num longo sorriso banhado das lágrimas ocultas onde guardei as ânsias e os segredos…dizes-te que voltavas!

A Primavera trouxe de novo o calor da praia, mas o teu aroma não se fez sentir…procurava, mas não o encontrava.

O mar murmurava no meu âmago o teu olhar.

Os dias fluíam num outro brilho, o teu sorriso espontâneo ficou gravado no meu ventre…a tua morada era utopia , também não a procurava para não acordar o sonho que em ti vivi e prolonguei nos olhos que sempre me perguntaram…

O meu pai?...O teu pai é o mar onde o amor te fez vida e a vida és tu fruto do mais belo Verão que o mar desenhou nas ondas de uma paixão na eternidade de mim.

Agora, trinta anos depois é Agosto outra vez, o mar uiva as mesmas paixões…sento-me no beiral das areias com a esperança ainda acesa de te poder beijar o olhar uma única vez, poder dizer-te que me entregas-te um destino longe do teu mas o mais nobre destino esboçado em pleno amor…quem me dera que o oceano te entregasse este segredo!

Foram tantas as vezes que falei contigo em letras sobre papel, coloquei-as em garrafas, entreguei-as ao mar para que ele te pudesse falar…mas será sempre Verão no meu coração pelo olhar que tatuastes nos meus lábios, eternos abrigos na verdade do amor em flor…

Carta n.º 19

Q’s G’s e I’s
 
Querido não precisas esforçar tanto nem ir muito longe para dizeres aquilo que vejo nos olhos dóceis e salpicados de água. Podes ficar no silêncio sempre que quiseres gosto desse jeito que tens calado que são horas ganhas por mim enquanto vais dizendo tudo que preciso saber para além daquilo que não sabes que sei. Dizer que tens um ser tímido dentro do olhar já sei ups constrangimento. Sei que trazes um dragão dentro do peito a querer explodir sinto-o pular daqui num jeito de batimento quase certo. Ver-te corado para mim é sentir-te tão giro e gracioso mas se a conversa estiver fora desse âmago normal de ser então vira o disco e põe lá a tua música. Saberei ouvir sem questionar. Existe essa barreira no querer e não vejo nada tão forte que não saiba o porquê. O pseudo muda de cor sempre que tento perceber a razão. Lavar as mãos com limão ups lembrei que tens dez dedos nas mãos para contares as vezes que me falas de ti. A lupa da mente veste-te o casaco a deixar-te sair rumo ao jardim das flores. Entre nós há bela conexão do só entender e interagir mas tens um toque torto no andar que se inclina para o meu estimulo maior. Belisca-me o pensamento e torna-me esfinge do teu olhar. Meus momentos dão-te noventa e nove vírgula nove por cento de encanto mas falta um por cento que anda a pular na minha mente dita meu ser onde me delongo a falar de ti. Tenho todos os Q’s G’s e I’s para dizer-te que não basta o mistério é preciso haver hemisfério a surpreender-te. Sair da onda por vezes é ganhar o mar que não tenho. Gosto de ir a festas imbecis é lá que os vejo todos juntos enquanto o fundo do nosso ecrã mostra aquela sempre frase perfeita: “no comentsâ€. Esquecemos da rodinha proibida no superior da juba do teu olhar que desperta o lado mais ameno de mim. Adoro essa parte do procurar-te quando simplesmente me abraças. Agora quebrar a casca de ovo somos soma secreta tão dócil que promove um pormenor simples de... UaU! Minha alma grita do outro lado de mim se saio desse mar a dentro onde te vejo magnífico. Entro a apanhar distraídos tantos I’s e tantos Q’s e iludo-me novamente...

Carta n.º 20

Orquídea

A esse alguém que jamais resistirá ao meu perfume

Uso as árvores para driblar a escuridão. Elas me agradecem por tornar seus caules mais belos e atraentes. Minha família é a maior que existe entre as famílias botânicas. Eu tenho alma também, assim como as minhas irmãs. Compartilhamos características as mais marcantes: cores, folhas, inflorescências, frutos. Sou adaptável, muito. Ao contrário do que se imagina, não sou parasita. Minhas raízes sobrevivem no ar. Estranhamente perfeitas. Do ar é de onde retiro os nutrientes. Jamais esqueço de exercer minha nobreza epífita.
Às vezes vem alguém e me leva para dentro de um vaso qualquer. Eu me sinto só. Mas esse alguém que me leva também cuida de mim; não com a mesma eficácia do meu habitat natural. O carinho que recebo costuma suprir a deficiência. Tornei-me quase humana. Dizem que tenho as formas mais provocantes da Natureza. Mesmo quando sou esquecida, o carinho que recebi me ajuda a aguardar o próximo que virá. Poderá vir, em forma de nuvem ou pássaro (não posso prescindir do pássaro nem da nuvem, seria o meu fim). Sei eu que não se escusará  à chegada ...o devir e seus obséquios fascinantes: abelhas, borboletas, besouros. Minhas estratégias de polinização (o jogo amoroso) são infinitamente belas. Minha herança está em todos os continentes.
Tenho segredos, muitos. Por isso não investigue sobre a melhor forma de cultivar-me. Antes procure identificar-se comigo. Somente o necessário. E tudo nascerá.
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« Responder #196 em: Fevereiro 07, 2011, 17:58:25 »


Carta n.º 21


Carta ao meu pai e ao meu filho

“Pai,
Sei que não tivemos tantas conversas como gostaríamos, assim como muitas coisas que não teve a oportunidade de me contar, outras tantas que eu nunca lhe disse. Hoje compartilho algumas dessas. Há algo muito importante sobre como a sua postura influencia a minha vida, que deve saber. Certa vez estava sentado com um grande amigo quando ele me faz uma pergunta inesperada. Questionava ele, “se tivesse que dizer qual a característica que mais admiras no seu pai, qual seria?†Fiquei calado. Pensei nos conflitos que vivemos, alguns muito intensos. Reflecti por longos minutos, deixei raivas antigas de lado, até encontrar a resposta. “Se tivesse a oportunidade de descrever o meu pai numa única qualidade, diria que ele é um homem generoso.†E a grandeza dessa generosidade sempre se fez presente nos seus modos duros, intempestivos, intransigentes, os quais nunca estiveram distantes de um coração sem tamanho.

Filho,
Sei que não tivemos tantas conversas como gostaríamos, assim como muitas coisas que ainda não tiveste a oportunidade de me contar, outras tantas que eu nunca te disse. Hoje compartilho algumas dessas.
Quero ensinar-te o que me ensinou o meu pai e que esteja sempre os meus modos duros, intempestivos, intransigentes, e que nunca estejam distantes de um coração sem tamanho.
Pois é gigantesco o que me foi ensinado pelo meu pai:
Aprendi a ser fiel aos meus princípios.
Aprendi a ler além do óbvio e entendi que o mundo não se resume ao que parece ser.
Tomei paixão pela leitura, fruto dos inúmeros livros com os quais me presenteou.
Admirei-me com o carinho que sempre dispensou à nossa família, faça chuva ou faça sol. O carinho dedicado também à minha mãe.
Aprendi a agir com presteza, pois quem chega primeiro na fonte bebe água limpa.
Aprendi a ser pródigo e a enxergar mais alto do que desejava acertar.
Compreendi ainda o peso das origens de um homem na sua vida.
O valor inestimável das amizades.
E a coragem de fazer o impensável quando todos discordam de você.
Entre tantas discussões, atritos e tanta distância, uma frase sempre ressoou na minha mente: “Caetano, tu não vais reinventar a roda!â€
Absolutamente enfurecido, nunca concordava.

Pai,
Hoje reinventei a roda!
Fui atrás dos meus sonhos. Alcancei-os, mas tenho outros novos. Vivo intensamente, trago comigo o melhor do que aprendi, lido com as falhas – erro como nunca, na verdade -, e tenho plena certeza de que a maior perfeição na vida de um homem são os obstáculos que enfrenta, pois neles, e somente neles, nasce a força da qual necessitamos para arrancar os nossos desejos mundo adentro. Pois sim, sou um desbravador convicto, eterno conquistador de novas terras e devorador de conhecimento.
E se hoje está presente diante de você esse Homem, saiba que o meu orgulho por você é sem fim. Que sou imensamente grato pela formação que recebi; dos acertos, dos desacertos, das brigas. Personalidade não nasce sob chuvas leves. É forjada em tempestades.
Se caminho altivo e realizo grandes feitos, esse é o seu legado.
Que estejamos juntos – como infelizmente não estamos agora – por muitos anos vindouros.
Pai, eu amo-te!
Filho, apenas te digo: “tu não vais reinventar a roda!â€

Carta n.º 22

Neste último ano

Olá!
Como sabes, neste último ano, muita coisa se passou na minha vida, desde o sonho destruído pela traição do meu marido com a minha melhor amiga até a um recomeçar de uma nova vida. Foi devastador para a minha alma. Há dias como estes em que nos apetece apagar o dia do calendário e da memória. Com uns copos, alguns conseguem apagar essa sensação de acordar no deserto que nos cega. Mas eu não bebo, por isso não podia ir por aí. Precisava de um sol, mas de um sol refrescante. Mas o sol tardou e eu pensava apenas em me atirar janela fora do 11º andar e nunca mais acordar neste mundo cheio de nada. Depois o sol apareceu. Foi a minha irmã que me tirou do mar de areia e me levou a uma festa de “tudo boa genteâ€, como ela me garantiu. Naquela festa, no meio de um mar de gente desconhecida, um desses rostos, já esquecido pelo tempo, volta a me encontrar. Eu disse que achava já o ter visto nalgum lugar também, porém o seu rosto em nada me parecia conhecido. Mas a voz, sim, havia algo de familiar naquela voz. Começamos a pesquisar os nossos passados e descobrimos que um ano, lá bem no passado, fomos da mesma sala de colégio. Aos poucos vamos recordando pessoas, factos que ocorreram. E nós pusemo-nos a conversar, e a conversa até que sai com uma certa desenvoltura, como se fôssemos amigos de anos, quando, na verdade, fomos apenas colegas por um ano. Vamos descobrindo que durante esses anos todos, as nossas vidas não estiveram tão distantes assim, e até temos amigos em comum. Mas então chega a hora de irmos embora. Despedimo-nos alegremente, com um ar de "prazer em revê-lo" ou um ar de "espero reencontrá-lo novamente". Ou, mesmo sem sabermos, talvez tenhamos ficado com essa impressão de ter a certeza que algum dia voltaríamos a nos encontrar; assim, ao acaso, à surpresa, como desta vez. O mundo dá voltas... como dá voltas. Arrependida por não ter pedido o contacto dele no dia daquela bendita festa. Já me tinha demorado muito tempo sem homem, um dia a mais era demais. Quem me valeu foi o anfitrião da festa a quem exigi que me desse o número dele. Liguei-lhe de imediato e até hoje não o larguei nem ele me largou. Agora vivemos um para o outro. Ele separou-se da namorada, porque também a relação deles ainda não era muito estável, e tinha sido só para ver se dava. Agora ele quer viver comigo. Diz que perdemos muito tempo, ao estarmos tão separados. Agora devíamos aproveitar o que a vida nos ofereceu. A vida quis que nos juntássemos. Deu-nos a conhecer um novo caminho, uma nova via, um novo futuro, um novo destino.
Temos de aproveitar. Fazer projectos a curto e a médio prazo para a nossa relação tem sido muito benéficas para mim. Eu, que estava no fundo do poço, sem condições para voltar a sorrir, com vontade de me atirar de uma ponte ou de uma janela de um prédio, agora sinto-me tão bem, tão feliz, como se aquilo porque passado tivesse sido num passado tão longe, tão distante. Apenas porque voltei a amar, apenas porque o amor é tudo. Há quem diga que quando uma porta se fecha, uma janela logo se abre e eu não acreditava nisso. Agora sim, agora acredito. Uma grande janela se abriu, tudo o que estava para lá da porta que se fechou, está bem trancada, para não mais abrir, para não mais me atormentar. Agora quero viver, amar, ser feliz.

Carta n.º 23



Meu Querido
Escrevo-te porque sinto saudades tuas. Especialmente hoje, porque chove lá fora como no dia em saíste da minha casa e da minha vida, como no dia em que abandonaste os teus livros em caixotes e o meu corpo frio, sem sopro de vida. Sinto falta do teu olhar pousado em mim enquanto eu me vestia, das tuas gargalhadas francas pela manhã, do teu abraço quente nas noites frias. Dói-me a tua ausência na minha cama, queria voltar a ter-te aqui, para me segredares palavras doces ao ouvido, para me beijares o pescoço e a boca, para entrares no meu corpo sedento do teu.
Conheci-te, num final de Julho longo e ardente, e não previ a tua chegada, não antevi a tua pressa, não adivinhei o perigo que encerravas nos teus olhos luminosos. Já te tinha sonhado, dentro de um sono possivelmente agitado, mas por vezes, os sonhos surgem-nos envoltos em bruma, as mensagens fechadas em códigos ininteligíveis. A plenitude do Verão e o teu sorriso irresistível, trouxeram-nos a intimidade, a inundação transbordante do amor. As estações sucederam-se a partir daí como nunca antes tinha acontecido, o Outono em doces tardes, o Inverno na quentura do teu peito, a Primavera nascida de todas as tuas palavras, o Verão eterno nos teus dedos esguios.
Eu amava tudo em ti, mesmo os teus defeitos mais óbvios, as tuas imperfeições de carácter, tudo o que eu odiava nos outros homens. Erguias-te aos meus olhos todos os dias nesse esplendor absoluto, de cabelos negros em desalinho e olhos húmidos, magnificente como um Deus. O nosso amor radiante e sem mácula, eu e tu juntos, sempre gloriosos e animados, com chuva nos cabelos e a pele quente do sol, o amor que eu via, sentia e acreditava.
Foi preciso tempo e lucidez para questionar o esfriar das tuas mãos, o silêncio profundo depois do orgasmo, os discos de jazz que já não ouvias. à noite, apesar de estares deitado a meu lado, era como se precisasse de um avião para chegar até ti, como se vivesses num outro continente. Estavas na China, mas dormias na minha cama. A Grande Muralha erguia-se á tua volta, e era impossível alcançar-te.
O tempo agigantou-se entre nós, e tornou-nos distantes, frios e cinzentos. A distância cresceu, alastrou como uma nódoa de azeite numa camisa nova e feriu-nos mortalmente. Durante muito tempo, esperei por uma resposta, por um sinal, por um gesto. Esse vazio silencioso afligia-me, paralisava-me, provocava-me insónias. Nesse Inverno de neve e silêncio, de trevas e vazio, passaram muitos anos e tu não te deste conta, e eu envelheci.
No dia em que te foste embora, percebi que fui sempre um ser imperfeito, fugidio e egoísta. No momento em que a porta se fechou atrás de ti, sob o peso das tuas mãos duras, também o meu coração se tornou uma peça inútil, um doente terminal em coma profundo.
Sinto saudades tuas. Especialmente hoje, porque chove lá fora, como no dia em que partiste. O teu cd de Jazz preferido toca no volume máximo, ecoa na minha casa e no meu peito. A chuva bate com força nos vidros, e é como se tu regressasses, por breves momentos tu estás aqui de novo, o teu cabelo negro em desalinho, o teu corpo celeste nos meus lençóis, os teus olhos húmidos em êxtase. Uma última vez, tu e eu e o nosso amor assim, radiante e intacto, antes de ser levado pela corrente, ressuscitado do sepulcro, como um milagre.
Fazes-me falta. Volta por favor.
Para sempre tua

Carta n.º 24


Carta; De mim, para mim…!

 

Há quanto tempo não falo contigo? Ah, há tanto tempo… sim!

…No entanto, sabemos, com uma precisão indefinível, que seja qual for a circunstância do nosso afastamento, estaremos sempre uma com a outra incondicionalmente. Nas horas mais difíceis. Para escalar os morros escorregadios que teremos que ultrapassar. Para que possamos içar finalmente a bandeira da determinação. A nossa. Porque somos nós que determinamos o queremos ser e nunca o que os outros julgam que somos.

Não o esqueças…! Principalmente nunca deixes de ouvir o que o teu coração te segreda. Ele pode enganar-se mas é sempre sincero quando o ouves atentamente.

Não permitas que os outros nos desencorajem. Peço-te!

 

É nestes momentos em que sigo a luz que busca incessantemente a claridade que se esconde no orifício de todas as sombras. Que me apercebo que por maior que seja a distância, ela se encurta ao som de um simples trinar de dedos.

Qualquer que seja o desespero que nos invada o espírito, a mesma ajoelha-se e cede. Haverá maior milagre do que acreditar no que desejamos?

 

Há quanto tempo… pois é! Ah, há quanto tempo!

Aprende a positividade das lições que te vieram do passado. A viver intensamente o presente, sem grandes conjecturas para o futuro.

Sabes? O futuro é hoje!

- Toma… bebe um copo de vinho comigo e sorri para o espelho. Não faças as habituais caretas como se esse exercício fosse uma idiotice pegada. Deixa-te de esquisitices. Descontrai, vamos lá!

Sinto-me tão só, hoje! Será que ainda não estás aqui, junto a mim? Não.

Porque sempre estiveste. Bastava eu querer sentir a tua presença.

E depois… mocinha insegura, vai-te lembrando que tens que gostar de ti, muito,

para que os outros aprendam a gostar de ti.

 Ã‰ básica essa conclusão mas não esqueças de a colocar em prática já que as palavras só ganham sentido se forem aplicadas no seu mais transparente sentido.



Carta n.º 25

 

 APRENDER A PERDER-TE  (carta)

Espreitei-te, hoje, pela nesga dessa onda onde te banhavas em mergulhos acrobatas a desafiar o sol nas suas penetrações abrasivas. como se de repente o céu caísse inteiro nas minhas mãos e te transformasses nas teclas de um piano a desafiar a impaciência gritante dos meus dedos. quis tocar-te com as chamas deste inferno que me devassa o corpo febril num alienado anseio de arrebatamento. Sabias?

- Por isso me aproximei de ti, como a abelha enamorada pela flor, mas… mas tu, estranhamente já não estavas lá. quis vestir-me dessa nudez que florescia na invisibilidade desfolhada do meu desejo, no entanto, apenas permaneceu a tua imagem transparente a eclodir de uma onda colérica. Porquê ? se o amor é uma pomba que apenas quer voar?
… desejei como quem roga, flutuar à tona de água, procurar-te nessa imensidade atlântica, acompanhar de perto esses bailados ondulantes para que o perfume do meu corpo se diluísse na mesma água que beija o teu. mas o mar enovelou a minha vontade, e eu… eu… perdida de ti e de mim, teimei em escrever na água o principio desse perecer estranho onde te busquei calçada de esperanças inapagáveis
Não leste essas palavras? Eram gigantescas como o meu amor por ti… imensas como o mar. Leste?
Ah… nem sei se sabes, que agora os lobos já não uivam no meu coração. Que pena… que a pena… me desarme com espadas de sal e brisas.
Hoje voltarei a ser um canário que canta a olhar para a lua.
Atrever-me-ei a entoar frémitos ocasionais, a transpor silêncios salgados, ávidos desse olhar inflamado de oceanos até que as algas do pensamento te façam escorregar para o sangue que bombeia o meu coração. Talvez o colapso final se dê por fim e eu saiba perder-te definitivamente…!


Carta n.º 26


Para o meu Amor,

Quando te conheci, o meu mundo estava virado do avesso.
Estava perdida de mim, sem norte de vida, alheada da realidade, mergulhada numa escuridão da qual pensei nem querer sair…
Mas quis o destino que nos encontrássemos e aqui estamos, passados tantos anos, amando-nos, respeitando-nos, sempre presentes um para o outro.
No entanto, eu sei o que te fiz sofrer.
Foste tu quem ajudaste a encontrar-me, quem me trouxe á realidade, quem iluminou o meu caminho, quem me tirou do desatino.
Sei que dirias agora, que fiz tudo sozinha, com a minha força de vontade, e talvez seja verdade, mas foi o teu amor constante e a tua força, que me deram alento para a luta que travei.
Tive sempre uma vida sofrida e encontraste-me no mais profundo abismo… não seria qualquer um que abraçaria a situação que enfrentaste.
Mesmo mais tarde, quando a doença chegou e sabes não ter cura, e que me irá torturar até ao fim dos meus dias, continuaste e continuas tal como sempre foste, forte, seguro, amigo, companheiro, amante, marido, e já nem se fala do excelente pai que sempre foste para os meus meninos.
Poderia dizer-te tantas mais coisas, mas tudo resto seria quase estar a repetir-me.
Eu sei que tu sabes, mas quero que todos saibam, que te amo, sempre te amarei e aconteça o que acontecer, nunca te esquecerei, nesta vida ou numa outra…
Amo-te…

Carta n.º 27

Caro Senhor

Sejas Tu quem fores, seja lá como Te chamas ou chamam, a mim pouco importa.
Estou aqui neste momento, numa noite de insónia, como tantas outras, e as palavras fervilhavam-me na mente e achei que devia escrevê-las.
Quero agradecer-Te tanta coisa!
Quero agradecer-Te a infância que quase não tive, mas que me ajudaste a atravessar, quase que esquecendo as más lembranças.
Agradeço-Te a adolescência que não vivi, mas na qual não me deixaste perder.
Estou grata porque apesar de ter sido forçada a crescer abruptamente e me ter perdido de mim, nunca permitiste que enveredasse por maus caminhos.
Agradecer-Te, por me teres ensinado que tudo acontece por uma razão, que depois da mais terrível tempestade, vem sempre a bonança.
Por me teres ensinado e ajudado a ser uma boa Mãe.
Porque me mostraste o que era amar de verdade, incondicionalmente e me presenteaste
com um Amor tão lindo, que faz pensar diariamente, que tudo, mas tudo o que sofri na minha vida, foi um preço pequeno a pagar pelo que tenho hoje…
Fiquei fascinada com a capacidade de amar que me ajudaste a descobrir que tinha, como me consegui tornar uma pessoa melhor, e como quero continuar a melhorar!
Não tenho muitos amigos, mas os pouquinhos que tenho, são um tesouro.
Os meus filhos, os meus enteados, os meus netos, os meus pais, a minha tia e a minha prima adorada, são as minhas relíquias.
E até os meus gatos são uma bênção (apesar das marotices), que aqui tenho em casa, quem sabe, talvez porque os recolhi ainda bebés, abandonados no lixo, mas a dedicação e carinho deles, sensibiliza-me muito, principalmente por ver tanta frieza e maldade lá fora, nos humanos…
Agradeço-Te toda a beleza das coisas da Vida…
E agora, Perdoa-me que esqueço de agradecer alguma coisa, mas peço-Te encarecidamente que perdoes o que faço de errado, que perdoes o que todos fazem de errado, que faças tudo por tudo por iluminar essas almas obscuras e perdidas que por aqui andam.
Por mim, tentarei dar o meu melhor, até porque penso que Te devo isso.
Mais uma vez, não sei bem quem És, cada um chama-Te o que bem entende, ningém sabe bem a tua forma, mas para mim, É somente algo superior, belo, omnipotente, omnipresente, omnisciente, e que acredito piamente não andar muito satisfeito com o que vês aqui por estes lados. Mas, mais uma vez, Perdoa-nos e não nos abandones.
Esta é a minha Fé
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« Responder #197 em: Fevereiro 07, 2011, 20:11:42 »

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« Responder #198 em: Fevereiro 07, 2011, 21:45:16 »



Ainda vou a tempo de participar?
Beijos
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« Responder #199 em: Fevereiro 08, 2011, 10:25:37 »

Olá GU,

Até dia 4 de Março de 2011 pode e DEVE! Rsss..
Abraço
José António
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« Responder #200 em: Fevereiro 08, 2011, 18:17:14 »

Não se atrasem, o prazo está a minguar.
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« Responder #201 em: Fevereiro 08, 2011, 21:00:16 »

Nem que escreva a mim próprio, não vou deixar de participar.
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Dionísio Dinis
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« Responder #202 em: Fevereiro 09, 2011, 06:09:20 »

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Pensar amar-te, é ter o acto na palavra e o coração no corpo inteiro.
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« Responder #203 em: Fevereiro 09, 2011, 19:13:47 »

E se der livro, há-de ser certamente um bom livro, a amostra promete bastante.
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« Responder #204 em: Fevereiro 09, 2011, 22:11:29 »

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« Responder #205 em: Fevereiro 09, 2011, 22:34:19 »

Tenho de enviar minha carta...
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Oswaldo Eurico Rodrigues


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« Responder #206 em: Fevereiro 10, 2011, 06:32:10 »

Por provocação de Goretidias
http://www.escritartes.com/forum/index.php/topic,30253.0.html
e incitação das utilizadoras cduxa e Alexa, nasce este concurso, "Cartas ao desbarato".

“CARTAS ao DESBARATOâ€
[/b]

Prémio EscritArtes, comércio

O prémio “Cartas ao Desbarato†é uma iniciativa do site EscritArtes, com o apoio da  empresa EscritArtes Comércio e da editora mosaico de palavras

Há cartas de amor, de ódio de amizade. Há cartas políticas, de raiva e de impotência.
Há cartes de fé, de ilusão e de descrença. Há cartas.
Há cartas ao desbarato!
CARTAS ao DESBARATO é uma mais um desafio ao talento e criatividade de quem faz da escrita um acto de memória e de futuro.
Reais ou ficcionadas há cartas e talentos díspares, venham elas soberanamente acompanhadas pelos respectivos talentos.

 

REGULAMENTO



-Pode participar neste concurso qualquer autor que esteja registado no site EscritArtes.
- Cada autor poderá participar com duas cartas e cada carta não poderá exceder os 3400 caracteres, incluindo espaços.
-A participação é exclusivamente na modalidade de prosa.
-Está vedada a participação no concurso dos elementos do júri. Contudo, se o conjunto de participações vier a dar origem a obra impressa, poderão os elementos do júri participar no referido livro.
- Os textos inéditos concorrentes deverão ser enviados para: administracaoescritartes@gmail.com (Assunto: “CARTAS ao DESBARATOâ€)  e nunca postados directamente pelos autores, em qualquer tópico que seja do site. Se tal vier a acontecer antes dos resultados finais, o texto será retirado de concurso.
-O último dia para recepção dos textos concorrentes será o dia 4 de Março de 2011
- A partir de tal data, o júri nomeado pela administração procederá à avaliação dos trabalhos e anunciará a sua decisão e entrega de prémios em evento a realizar a 28 de Maio em local a anunciar.
-O júri será constituído por um elemento da administração do site EscritArtes, um elemento da editora mosaico de palavras e um terceiro elemento nomeado por consenso entre a editora e o site. 
-Da decisão do júri não haverá recurso.
- Existirá um primeiro prémio pecuniário no valor de 100 euros
-Existirá um segundo prémio pecuniário no valor de 25 euros
-Existirá um terceiro prémio constituído por um lote de livros, oferecido pela editora mosaico de palavras

 
- Cláusula única:
Os  vencedores ficam automaticamente obrigados a colaborar com as suas respostas numa entrevista a ser-lhe dirigida pelos Organizadores, bem como dispensar material fotográfico para suporte da postagem da mesma no Escritartes. Tanto o vencedor como o segundo premiado deverão também disponibilizar o seu NIB/IBAN para transferência bancária.

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« Responder #207 em: Fevereiro 10, 2011, 18:41:10 »

Participem.
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« Responder #208 em: Fevereiro 10, 2011, 22:19:10 »

Não se atrasem.
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« Responder #209 em: Fevereiro 11, 2011, 01:40:55 »

Para além do prémio, vale a pena recuperar esta forma de comunicação.
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Bom dia. Para todos um FigasAbraço
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Sejam bem vindos às escritas!
Agosto 14, 2023, 16:52:48
Boa tarde!
Janeiro 01, 2023, 20:15:54
Bom Ano! Obrigada pela companhia!
Dezembro 30, 2022, 19:42:00
Entrei para desejar um novo ano carregado de inflação de coisas boas para todos
Novembro 10, 2022, 20:31:07
Partilhar é bom! Partilhem leituras, comentários e amizades. Faz bem à alma.
Novembro 10, 2022, 20:30:23
E, se não for pedir muito, deixem um incentivo aos autores!
Novembro 10, 2022, 20:29:22
Boas leituras!
Novembro 10, 2022, 20:29:08
Boa noite!
Å¿etembro 05, 2022, 13:39:27
Brevemente, novidades por aqui!
Å¿etembro 05, 2022, 13:38:48
Boa tarde
Outubro 14, 2021, 00:43:39
Obrigado, Administração, por avisar!
Å¿etembro 14, 2021, 10:50:24
Bom dia. O site vai migrar para outra plataforma no dia 23 deste mês de setembro. Aconselha-se as pessoas a fazerem cópias de algum material que não tenham guardado em meios pessoais. Não está previsto perder-se nada, mas poderá acontecer. Obrigada.

Maio 10, 2021, 20:44:46
Boa noite feliz para todos
Maio 07, 2021, 15:30:47
Olá! Boas leituras e boas escritas!
Abril 12, 2021, 19:05:45
Boa noite a todos.
Abril 04, 2021, 17:43:19
Bom domingo para todos.
Março 29, 2021, 18:06:30
Boa semana para todos.
Março 27, 2021, 16:58:55
Boa tarde a todos.
Março 25, 2021, 20:24:17
Boia noite para todos.
Março 22, 2021, 20:50:10
Boa noite feliz para todos.
Março 17, 2021, 15:04:15
Boa tarde a todos.
Março 16, 2021, 12:35:25
Olá para todos!
Março 13, 2021, 17:52:36
Olá para todos!
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Boa feliz noite para todos.
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Bom fim de semana para todos
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Boa quinta para todos.
Março 03, 2021, 19:28:19
Boa noite para todos.
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