Carrossel da vida

[Nação Valente]

Nas feiras da minha infância havia sempre um carrossel. Ciclicamente, todos os anos, voltava com a mesma alegria, emitindo pela roufenha instalação sonora, canções em voga.
Começou oficialmente o inverno, que como os carrosséis da época de todos os sonhos, volta impreterivelmente ano após ano, depois do solstício de verão. O que mais gosto na estação invernal é que passe depressa para não se apagarem da nossa memória as delícias do cálido verão. A estação estival, transporta consigo a luz que nos liberta dos soturnos dias invernosos, frios, escuros, breves. Dá-nos sensações de plenitude, de libertação, de renascimento. É tempo de férias, de soltar as carnes oprimidas das amarras do pudico vestuário. É tempo de nudez controlada, de plasmar o corpo com as areias douradas das apetitosas praias, absorvendo sofregamente os raios solares. É tempo de libertar o espírito da depressão nórdica, da caverna platónica e mergulhar na realidade irreal de um mundo ideal.
O mundo ideal da irrealidade que o verão expressa é leve, breve e volátil, Passa ao ritmo da estadia das andorinhas, mas cria a ilusão que é eterno porque volta sempre com pontualidade britânica. Um após outro, num ciclo de infinitude, o verão é o carrossel da vida: "nova corrida, nova viagem".
No sobe e desce, na lufa, lufa, no rodar vertiginoso, distrai-nos da marcha natural do tempo, de que só nos apercebemos quando um dia olhamos o espelho e a notamos cravada nas rugas que cavam o rosto. E o carrossel continua imparável:"nova corrida , nova viagem", a vida é uma miragem, a vida é uma passagem para outra margem.

MG

[Goreti Dias]

Noltálgico quanto baste. Eu costumo dizer que o inverno termina em janeiro com o florir das mimosas. Cheira logo a primavera!

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Por aqui a diferença entre as estações não é tão marcada quanto na Europa. É o suave o transitar entre elas, mas também notável.
Algo em comum seria a nostalgia e a beleza que o texto nos traz. Isso é perfeitamente possível tanto aqui quanto aí. A sua crônica é universal por isso excelente. Bravo! Bravíssimo!

[Nação Valente]

A nostalgia de todas as primaveras também dá sentido à vida.
Abraço