Valores

[Goreti Dias]

Quando tinha 15 anos escrevi isto:

Valores




Tu, que clamas por Liberdade,
Ignoras a luz do Sol nascente,
A força do vento na cidade
Levando tudo à sua frente.


Tu, que pregas ideais de Justiça,
Ignoras o voo da águia real
Picado sobre a carniça
Que há-de ser a lebre do vale.


Tu, que alardeias Igualdade,
Ignoras a força do espinheiro
Plantado na mesma herdade
Que o doce, elegante pinheiro.


Tu, que gritas Fraternidade,
Ignoras as garras do leão
Um dia, por infelicidade,
Nas espáduas de um peão.








Nesta selva que habitas
Não clames por Liberdade,
Não busques Igualdade,
Tão pouco Fraternidade.
A Justiça em que acreditas
Morreu em Nenhuma Idade!

[helenacosta]

  Grande poetisa e com grandes "valores".


  Beijinhos

[Goreti Dias]

Obrigada pela amizade ao longo dos tempos.
Beijo

[Tere Tavares]

os valores parecem ter-se confundido na atual conjuntura... não do ser...mas de alguns seres insensíveis, governos, arght!
o poema é atemporal goreti, gostei muito.

[Goreti Dias]

Obrigada pelo carinho!
bj

[António Casado]

Vamos ver se o meu comentário consegue ficar registado. Já três ou quatro perderam-se.
Podia começar por qualquer lado, mas começo por aqui:

"Tu que alardeias igualdade
Ignoras a força do espinheiro"
É fácil alaedear igualdade, e outros valores de justiça social, sentado no resquício cómodo e fatal do meu sofá. Aí sou o revolucionmmário de esquina, aquele que luta sei lá bem pelo quê, que condena tudo o que desconhece e ainda surjo revesrtido com a capa de um herói capaz de tomar grandes medidas em prol da sociedade que desconheço.

"Tu que alradeias Justiça"
A justiça tem o peso do julgado e do julgado. Melhor equilibrio quando ambos são a mesma coisa. Infelizmente é o tempo de hoje. Juízes e advogados jogam o xadrez da conveniência. Os outros, eu, morro à míngua de palavra, como dizia Ary dos Santos.

Discordo da estrofe final.
A justiça em que acredito não morreu. Não morre nunca! A justiça em que acredito será o grito de manhã dos jovens que me terão na sombra a erguer os seus estandartes. quando perder a fé na luta pela igualdade e pela justiça social, perderei a fé em mim e o meu sentido de escrita não valerá a pena.

Neste momento nem me interessa saber se escrevo bem ou mal, apenas escrevo. Quando o faço liberto a revolta e a raiva e o ódio e a tristeza que este mundo possuí em mim. Se um, apenas um, acordar do pesadelo em que o enfiltraram por lavagem cerebral e ignorância, então saí-me vencedor. Apenas um, para mim que não tenho direcção que não seja a direcção do meu Povo, mesmo quando errado.

Lembro-me de ter sido convidado para declamar em setúbal. Depois de ter lido uma poema de critica social todos aplaudioram efusivamente. Saí da sala triste e chorei. NINGUÉM ENTENDEU NADA! Perdi o meu tempo. Aplaudiram a perfomance... (hoje está em voga o estrangeirismo), mas não a mensagem. Enfim...
António Casado

[Goreti Dias]

Bem! este poema escrito aos 15 anos valer uma tão profunda análise é obra! Concordo plenamente com tudo o que diz excepto quanto ao último parágrafo. Pode ter sido assim ou interiorizado assim. Quando o aplaudiram, podem ter aplaudido também a mensagem. Mas que acontece muitas vezes aplaudirem a performance, acontece. É por essas e outras que prefiro a singela interpretação. Obriga as pessoas a pensarem.
Obrigada pela leitura e comentário.

[margarida]

Resumiria:
 "A Justiça em que acreditas
Morreu em Nenhuma Idade!"

Para nossa desgraça!