Estranhas, muito estranhas, (....)

Estranhas, muito estranhas as pessoas que o acordaram, aos beijos!
Embora o dia das bruxas já tivesse passado, uma tinha um aspecto de fada, bem anafada!
Acordado, numa alvorada, que tinha deixado a porta aberta do polo norte, donde Éolo soprava, gelado e tudo encolhia, o “Acordado”, -sim, porque uma pessoa que acorda pode ser chamada de” Acordado”, mesmo que tenha andado sempre a dormir em pé!
O “Acordado”, dizia eu, sentia-se beijado, acariciado! Oh! Que meiguices! Desempregado, há longos meses, estava a precisar! Bem tentava, mas nada! Consideravam-no um velho! Não tinha pago à EDP e já tinha gasto a última vela com o subsídio do desemprego!
A vida era-lhe só escuridão! Belos tempos, aqueles, de columbófilo, em que via regressar seus pombos brancos. Exatamente, uma pomba branca lhe parecia a senhora vestida de fada, embora anafada, que, alegremente, o agarrava, com uma voz lascada! Talvez, tivesse ferido a língua em lascas de muros ao tentar saltar!
O “Acordado”, esfomeado, desempregado, sem cursos de jogos radicais para angariar capitais, estava completamente nu! Tão magrinho, que até se via a alma e o pensamento! Era um português, de verdade! Daqueles que acreditam piamente no seu semelhante e nas historinhas de coelhinhos! Imaginem que até nos políticos o “Acordado” acreditava! De tão boa-fé, que até já tinha ido algumas vezes a Fátima, a pé! Infelizmente, até àquele momento, em que se via rodeado daquelas pessoas, que lhe pareciam tão carinhosas, tão bondosas, o milagre não tinha acontecido. Seria agora? Do que se passou depois, de nada o “Acordado” soube! A fada, anafada, que fazia parte daquelas pessoas, que rodeavam o “Acordado”, com tantas dádivas de carícias, pegou nele, todo nu, e ergueu-o.Com um toque de mágica reduziu o “Acordado” a um menino.!Afinal, como já se sentia velho, a fada mais não fez do que cumprir o ditado: ”de velho se torna a menino”.
-“Até gastaremos poucos marcos! Desculpem, queria dizer euros”, disse a fada, anafada!
Foi um grande milagre! Pegaram no menino, “pequenininho”, na sua pequenez de português, e puseram-no num presépio, sobre simples palhinhas! Depois, na Alemanha, fizeram-se milhões de réplicas, exportadas para todo o mundo, para divulgação da fé! Felizmente, o menino Jesus português aguenta tudo, até o bafo das vacas à sua volta! Só não suporta é o xixi delas! Prefere leite, mas tem de esperar, na sua nudez, pelo subsídio das prendas!