Araci
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Ainda não sei o que sou, mas sei quem eu sou
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« em: Janeiro 24, 2014, 17:52:08 » |
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ESTE TEXTO Jà TEM QUASE UM ANO, MAS VOLTEI A LER E ACHEI BEM PARTILHAR, TANTO MAIS QUE TENHO ESTADO DEMASIADO AUSENTE DESTE MARAVILHOSO ESPAÇO.
" Há cerca de quase 2 semanas voltei ao Porto para ir a uma entrevista de emprego. Claro que isto serviu também de desculpas para muita coisa, para voltar a ver os meus amigos, para ir tomar um café ali e acolá, para matar saudades da Invicta que apesar de apenas um ano volvido está bem diferente( já lá vamos).
Foi um sentimento estranho voltar lá. Assemelho ao que senti quando estive por lá, ao mesmo que sentia ao olhar para a minha escola secundária quando andava já a estudar na Universidade. Um sentimento de estranheza, como se aquilo já de facto não pertencesse a mim, como se estivesse inserido numa fase da vida à qual não se pode voltar mais, e no fundo não deixa de ser verdade. Não pensava que ia sentir isso do Porto, mas a verdade é que foi esse o sentimento, estranheza.
Ora o Porto está diferente, pelo menos uma parte do Porto. Digo isto porque a entrevista iria ser realizada num tal de Café Costa perto dos Clérigos. “ Porra†pensei para comigo depois de ter puxado bem pela cabeça. Eu conhecia bem o Porto, a baixa e as Galerias de Paris eram os locais que eu mais frequentava, mas não tinha memória alguma de um café chamado Costa e ainda por cima ao lado dos Clérigos.
Ao chegar à Invicta fui ter com uma amiga minha que disse que aquilo era perto dos Clérigos mesmo. Eu continuava sem saber onde aquilo era. Então lá fomos nós as duas a subir a minha querida rua dos clérigos que me viu tantos anos a caminhar por ela a cima e a carregar uma mala super pesada e a suar que nem uma perdida. E então numa zona super velha, onde eu anos atrás tinha ido dar assistência a uns sem abrigos, lá estava uma nova zona chique da cidade. Restauraram aquilo tudo et voilá, mesmo ali na esquina encontrava-se o tão famoso Café Costa. Ao que parece aquilo é uma empresa multinacional super famosa, mas como eu vivo noutro mundo nunca tinha ouvido falar de tal coisa.
Lá entramos antes da hora da entrevista também para metermos a conversa em dia. Então ela lá me contou que quem também ali trabalhava era a Teresa do nosso curso.
†Teresa mas que Teresa?†perguntei-lhe.
†Ó pá, a miss Teresaâ€.
†Ui!†disse eu logo espantada, †essa criatura trabalha aqui?â€.
Pronto vou vos contar. A Teresa, ou Teresinha para os finos, era das pessoas mais que insuportáveis no nosso curso. Isto porque basicamente achava-se melhor que tudo e que todos. Sentava-se sempre na primeira fila com apenas o intuito de ver passar as pessoas e de lhes lançar um ar de desprezo ( é pena mas é mesmo verdade). O chato da rapariga não era falar mal das pessoas, era o facto de fazer questão de as humilhar e elas darem mesmo conta. Conta-se as inúmeras bocas sobre †olha que gaja gordaâ€, †Olha que gajo ridÃculoâ€, depois lançava um riso seco, cÃnico e que era de facto insuportável. Também se conta a vez em que ao ser interceptada por um rapaz que estava à porta da nossa faculdade a perguntar se ela queria se juntar à manifestação contra a subida das propinas lhe respondeu “ querido eu não preciso disso que o meu pai é médicoâ€. Esta frase ecoaria para sempre na minha cabeça. Também não tinha 18 anos como os outros, fazia-se já muito mais velha como se fosse alguma tia de Cascais com 40 anos ou coisa parecida…
A imbecilidade da miúda prendia-se assim pelo facto de ela também achar-se mesmo boa, quando eu tinha muitos amigos que se afastavam dela porque diziam que não aguentavam um mulher com tanta mania. No final do curso uma professora nossa perguntou-nos o que irÃamos agora fazer da nossa vida. Uns disseram que iam para Mestrado, outros disseram que iam tentar arranjar emprego, e eis que chega a vez da Teresa e o que diz a menina †Eu vou para Nova York estagiar num museu,fiz algumas cadeiras de História de Arte durante o curso o que me ajudou bastanteâ€. Toda a gente ficou a olhar para ela com ar de parvo, e quando chegou a minha vez ( e porque eu estava mesmo fora de mim durante aquele ano) e a prof lá me fez a dita pergunta eu lá respondi †o que eu quero é mesmo ser rica professora, o meu pai não é médico e não me pode pagar viagem para Nova Yorkâ€. Eu sei que não foram estas as exactas palavras, mas foi algo parecido, só sei que no final toda a gente me veio dar um aperto de mão por ter feito frente à miúda. Eu também fui imatura nessa resposta, mas durante 3 anos a ouvir aquela gaja falar mal dos outros e fazer rebaixar toda a gente fez-me explodir e dizer aquilo.
Quando a minha amiga disse que ela estava a trabalhar no café costa, não nos deixamos de rir. Acho que para a Teresa foi alta humilhação ter de servir o café à mesma pessoa que uns anos atrás gozava à brava. Quanto a mim e quanto à minha amiga, quem nos dera trabalhar ali no café costa, estarÃamos bem felizes, mas acho que para a Teresinha infelizmente aquilo deve ser humilhante, o que não deixa de ser triste,porque eu podia perguntar-lhe †Então o teu pai não é medico, pensei que não precisavas disto…†"
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