Araci
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Ainda não sei o que sou, mas sei quem eu sou
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« em: Março 13, 2014, 09:50:07 » |
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Este é mais um daqueles insólitos casos desta vida, daà o também o tÃtulo . Mas antes de começar a relatar o que tem vindo a acontecer, há que fazer uma analepse na narrativa para previamente ficarmos a saber a razão da minha espécie de indignação.
Corria, acho, o ano de 2006, tinha eu portanto 16 anos e pela primeira vez na minha tão singela vida de adolescente começara a sair à noite. Atenção, porque não era um simples sair à noite e voltar para casa dos papás à s 24 horas do mesmo dia, não, eu fiz um plano mais reboscado. Fui até uma outra cidade, Aveiro, conhecer finalmente uma menina chamada Anabela com quem eu já há algum bom tempo trocava cartas ! Sim, eu ainda sou do tempo, assim não tão longÃnquo, em que as pessoas escreviam cartas e mandavam pelo correio as suas novidades, incrÃvel mas verdade!
Lá fui eu então, super feliz, encontrar-me com essa amiga de Guimarães, mas que estudava na Universidade de Aveiro. Lembro-me perfeitamente desse dia , como se tivesse sido hoje. Apanhei o autocarro na minha terra, fui no banco da frente a ver a paisagem até Aveiro, e cheguei lá numa manhã de sol, apesar de na minha terra estar particularmente frio.
Só não me lembro bem em que época do ano isto se passou, mas muito possivelmente no inÃcio de Primavera, lá para Abril. Desci ao lado de um jardim, e lá fui eu à procura da Universidade. Cheguei ao Polo onde ela estudava e lá me sentei num banco à espera que ela podesse chegar. Note-se que não sabia tampouco muito bem como seria o aspecto dela, então fiquei simplesmente a olhar a ver se saÃa alguém que eu visse que me podesse parecer a ela. Minutos depois lá vem ela, com aquela boa disposição tão particular que ela possui e que é realmente única. Usava um casaco branco fofinho, penso que umas calças de ganga, e veio logo me dar um abraço. Não me lembro o que fizemos a seguir, mas aquele momento de tão importante para mim ficará para sempre na memória.
Mas bom, lá andei eu por Aveiro, ela apresentou-me os amigos dela, entre eles o que seria o seu futuro marido ( lindo isto), e numa das noites em que por lá fiquei, fui também convidada por uma outra amiga dela, chamada Carla, a irmos todos jantar à sua casa. Eu tinha 16 anos, mal sabia o que era gente, e ainda mal sei, mas achei a Carla com uma personalidade do caraças, excessivamente simpática, um tanto ou quanto masculina, mas boa pessoa. De longe via-se que tinha uma grande pancada mas não deixava de ser boa pessoa, gentil, simpática, a convidar o pessoal todo para ir jantar a casa dela.Lá para o final da noite até cheguei á conclusão que ela era boa moça.
Várias vezes depois voltei a Aveiro para saÃrmos, e juntamente com a Anabela lá estava ela, sempre para aparecer com a lÃngua de fora nas fotografias, sempre a fazer o sinal de peace and love, sempre atéalegre, até demasiado alegre, mas ok tudo bem haja alegria haja Casal Garcia e afins. Portanto, a ideia com que sempre fiquei da Carla foi essa mesma, uma tipa com uma forte pancada mas boa gente, simpática, explosiva de alegria, amiga dos seus amigos.
Os anos foram passando, eu saà da terrÃola, fui até ao Porto para estudar, e entretanto no meio de toda esta evolução das vidas de cada um dá-se o casamento da minha amiga Anabela ( sniff sniff foi emocionante aquilo, eu lembro-me de ter soltado umas lágrimas durante a cerimónia ). Na boda, ao meu lado, lá estava ela, a Carla, na mesma mesa que eu, mas mal falou para mim o tempo todo. Foi aà que notei que algo tinha mudado, estava mais apagada, mais calma, ou se calhar era apenas inveja de ver a amiga casar-se. Whataver.
Tempos depois venho a saber que afinal praticamente já nem eram amigas, que não sei o quê nem sei que mais. Ok, acontece, a vida é assim prega-nos estas partidas sem graça, mas não era comigo quais fossem os problemas entre eles, eu no fundo esperava continuar a receber aquela alegria com que a Carla sempre me recebeu, mas não, algo tinha mudado.
Hoje, coicidências ou não da vida, tenho um trabalho e dirijo-me bastantes vezes a Aveiro, e pumba catrapuz vejam lá bem isto, cada vez que lá vou sou forçosamente obrigada a passar no local de trabalho da Carla. A primeira vez que a vi lá fiz alta festa e disse quase aos gritos entusiasmada de a ver †Epah tu trabalhas aqui!!! “, ela lá me lançou um sorriso amarelo e acho que nem um bom dia me disse, várias vezes lá passei e o meu entusiasmante †Epah pah tu trabalhas aquiâ€, passou para um amarelo †olá†como ela também me mandava.
As páginas tantas, lá vou eu várias vezes a Aveiro e situação cada vez se degradou mais, com ela a lançar-me uns olhares estranhose frios. Tão estranhos que da última vez que lá fui deixei-me de fitas também e continuei sempre a falar em inglês para os meus turistas, nem um amarelo †Bom dia†lhe disse, muito menos um “Epah trabalhas aquiâ€, apenas olhei para ela, e acho que é isto que se chama sentir pena de alguém. Pena por ela ter destruÃdo a boa pessoa que havia nela, pena por as pessoas serem burras e não aproveitarem esta vida que deve ser vivida na máxima felicidade e sem rancores, pena por ter virado uma pessoa fria que lança sorrisos amarelos e forçados.
E pensar que parece que foi ontem que estava a comer camarão em casa dela, numa mesa redonda pequena, que jogávamos todos á sueca e que lançávamos gargalhadas todos juntos…
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