Questão dos tomates!

QUESTÃO DOS TOMATES!
Os dias passavam, e cada vez mais o sabor da comida do hotel já enjoava pela generalidade do sabor a tomate!
Tudo era tomatado!

Não era que a comida não fosse variada e colorida na apresentação. Não.
Não era porque fosse pouca. Não!
Não era porque a sala do restaurante do hotel não fosse luminosa. Não senhor.
Simplesmente, depois de terem rodado por todos os pratos apresentados, ao fim de três dias a conclusão de sua esposa foi:

-“Já reparaste que a comida sabe toda a tomate?!
-“Deixa lá. Para a semana já vamos embora”

Quando, naquela noite, após o diversão cultural no hotel subiram ao seu quarto, ela tomou seu banho, aspergiu-se com perfumes, colocou cremes na epiderme. Seu marido não resistiu. Fizeram amor.
Depois, ela regressou ao quarto de banho, higienizou-se e, depois, entrando no leito, ainda mantinha aquele desejo de desabafar, numa voz meiga, como que a pedir o apoio a seu marido:

-“Mas, não achas que até agora tudo soube a tomate? Diz lá, fala verdade”

Ele, compreensivo, até porque também era cozinheiro, em início de carreira, mas em ascensão, sabia bem dosear o molho dos tomates que usava. Até se lembrava, muito bem, da última dose aplicada na última receita.

-“Ó mulher, realmente, aqui no hotel usam o molho de tomates em exagero! Tu sabes que, no restaurante onde trabalho, meus clientes não se queixam do mau uso do molho dos tomates. É tudo com peso, conta e medida, para não causar enjoo aos clientes”
-“És um querido. Eu já pressentia, pela comida que me fazes, que não gostas de carregar no molho dos tomates. Eu já tinha detetado a tua diplomacia no uso dos tomates”

Passaram-se meses. Um dia chegou a bombástica notícia. Seu restaurante tinha sido premiado com uma estrela Michelin! Foi uma festa de arromba.
Até se soube que o prato servido, aos representantes da Michelin, não tinha molho de tomates, porém, esse facto também ajudou à estrela.

Nesse dia, só por acaso, tinha guardado o resto do molho e levou-o levar para casa, para cozinhar para esposa!

-“Vês, querida; graças aos teus reparos fui reduzindo ao molho de tomates, quase a zero, na comida servida no meu restaurante e quando uso é sempre de tomates frescos, ecológicos; revigorantes”

-“Que maravilha”, comentou a exultante esposa.
-“Estou tão contente que até me apetece uma coisa”
-“Que é?”
.”Um sumo de tomate”, disse ela.

A festa continuou noite fora.
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Autor: Figas de Saint Pierre de Lá-Buraque
Gondomar-Portugal