Pedro Ventura
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« em: Agosto 13, 2008, 21:10:41 » |
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O homem que tinha a mania da arrumação era um homem como todos os outros. Mas a sua vida era monótona: casa trabalho; trabalho, casa; queria que tudo fosse perfeição. Aquela sua mania da arrumação, quase se tornara numa doença, numa obsessão. Gostava que tudo estivesse no seu devido lugar. À sua mulher tudo aquilo fazia certa confusão. O homem que tinha a mania da arrumação, chegado a casa, sentava-se no sofá a desfolhar o jornal, mas só depois de se certificar que tudo ocupava o seu preciso lugar. Enquanto isto, a mulher cozinhava, naquele espaço que se tornara o seu mundo. Poucas palavras trocavam durante o jantar, a não ser que ele notasse na mesa alguma coisa que não estivesse a seu agrado, e aí a observação dava-se como certa. À noite, arrumados os chinelos, direitinhos lado a lado debaixo da cama, e o robe no cabide atrás da porta, deitava-se. Dava um beijo de boas noites à mulher e adormecia num sono arrumado. Aquela vida conjugal tornara-se em duas vidas separadas e diferentes. Certa noite, a mulher do homem que tinha a mania da arrumação, foi-se deitar mais cedo, à espera do marido, à espera do prazer das carnes. Puramente necessidade física, pois amor já não existia. Antes de ele chegar ao quarto já ela se tinha contorcido de prazer. Deita-se em cima dele e começa a beijar a mulher, na face e por ali abaixo, percorrendo todos os contornos do corpo, há muito não percorridos. Ela geme de ansiedade e tira-lhe a camisa. Ele sai de cima dela e vai pendurar a camisa nas costas da cadeira e deita-se de novo ao lado daquela mulher, toda ela em erupção. Ela saca-lhe as calças e ele dirige-se de novo à cadeira. Dobra as calças minuciosamente e pousa-as no mesmo lugar onde a camisa já descançava. A mulher fervia de corpo e também já de alma. Saturada daquele aquece e arrefece, pensa em segundos em toda a sua vida, salta da cama, veste-se e sai de casa para nunca mais voltar. Precisava de desarrumar a sua vida, num outro lugar, com outro alguém.
2002
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