Nina Araujo
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« em: Agosto 14, 2008, 19:39:59 » |
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Zenilda era uma pessoa completamente desprovida de “ nonsenseâ€, na cozinha sim, era ‘hours concours†nos guisados espanhóis, nas paellas...
Dona Guigui Pompidou a aconselhou nos traços culinários por todo tempo em que não esteve entediada, agora só falava francês e a comunicação ficara mesmo quase impossÃvel, a dona cismou que não nasceu no Brasil, nem nunca fora pobre – imagina,essa palavra nem era reconhecida – bem, apenas a cozinheira espevitada, sabia de seus tempos de manicura lá em Macaiba no quente torrão nortista.
E o quanto a patroa deu duro como doméstica, babá, cozinheira e chef de buffet, até conhecer o conde e tudo mudar para ambas.
Mas dona Guigui- na verdade Guiomar- se recusava agora a falar a lÃngua natal. Aquilo estava acabando com Zenilda:
-Onde já se viu, mandar o motorista ir embora em francês...essa “ ruça de uma figaâ€, um dia aceito a proposta de monsieur Lancaster, e vou ser sócia dele lá nas cantinas de Ceilão ou de Milão, ai como estou cansada disso...se não fosse meu pai doente, eu me livrava dessa galega tampinha...
Falava, torcia o nariz, mas era seu fiel escudeiro. No começo havia sido difÃcil para elas, numa terra estranha, com tudo por aprender, se não fosse a dedicação integral do conde -aquele santinho- nem dona Guigui havia suportado tamanha pressão.
Por conta dos negócios com o vinho, aceitou acompanhar os patrões nesta estada de um mês por São Paulo, seria uma chance de voltar ao seu paÃs tropical, quem sabe não pudesse levar o namorado brasileiro Carlão, mas como esperar coragem daquele pobre burro de carga da famÃlia que o explorava a mais não poder, jamais teria a coragem suficiente para acompanhar a comitiva do conde.
-Zenilda, venez ici, si’l vous plaît...rapide...rapide... falava alto a madame.
-Que diabo a “bisca†quer ? pensou Zenilda para logo depois responder:
-Oui,madame. Voulez vous quelque chose?
-Mais oui...rapide... respondeu já aflita a dona
Ela queria um jantar para cinco pessoas, e Zenilda teria o reforço de um garçom e uma assistente. Porém o melhor é que poderia sair às vinte e duas horas, e então seria muito feliz no primeiro forró que pudesse chegar com aquele seu sotaque nortista francês e castellano...
E como podem ver, essa era a vida da cozinheira de dona Guigui, o que se há de fazer...
Nina Araújo
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