mitologia (1)

[Mel de Carvalho]

do retrocesso feito
verso
de pano cru bordado a crivo aberto e lento
escamas de peixe
mulher-sereia
em linho de luar e estrelas, fulgentes estrelas,
madrepérolas e cascas d’ostras soltas da vastidão do mar,
bordei monograma duma só letra igual
teci poema em forma de estandarte
bandeira branca, parti
e me fiz viagem

olho o infinito horizonte no lugar exacto
onde
ontem, ao fim da tarde
vi descer o sol no ventre líquido do mar.
reato pontas ao vento, teço cordas fortes
cordames grossos
amarro a cintura
à pedra lapidar, à pedra vasta da palavra:
- não temo monstros outros que não aqueles que já
m’habitam
aqueles que num tempo madrigal da minha
própria imperfeição
teci
cerzi
tecedeira utópica de minh'ilusão.

caminho a areia solta da praia daqui na ilha
e espero o regresso da frota
da frota antiga onde partiste para a guerra de Tróia.

estóica a esperança
de viver vivendo a espuma clara desta bonança
e jubilar na sabedoria de me ter cruzado contigo
um dia
         …poesia.
___
(1) Depois de reler Konstantínos Kaváfis “Ítaca”
^{Lx,11/06/2008}

[Goreti Dias]

Bem "tecido"!
Bj

[Mel de Carvalho]

minha amiga, agora dediquei-me à "mitologia" rsrs...

Fraterno abraço,
Mel