Godi
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"Eu te direi as Grandes Palavras"
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« em: Dezembro 19, 2008, 12:04:42 » |
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ESTORVO (São Paulo, Companhia das letras, 1991) é o segundo livro publicado de Chico Buarque e seu primeiro romance. O autor procura reproduzir uma dimensão urbana aonde o protagonista – sem nome próprio, conduz uma existência a margem, vivendo numa realidade de uma metrópole sem ermo e sem destino. De trajetória obsessiva, pela qual se habituou a pessoas e familiares estranhos. ESTORVO mantém-se perenemente no limiar do sonho e a vigÃlia, entre o olho real e o olho mágico, entre o desespero subjetivo ou a epifania patética do cotidiano. Algumas das vezes a narrativa lembra um romance policial, em que o mistério e o simbolismo transformam-se numa metáfora da visão deformada das relações sociais que são descritos. Narrado em primeira pessoa, ESTORVO, é renovador em linguagem na Literatura Brasileira Contemporânea mas sem ser inovador no sentido do termo pois traz apenas retrabalhados termos, conceitos e imagens já visitadas e palmilhadas no certame literário.
O contexto urbano, utilizado como pano de fundo da narrativa oferece o tom de modernidade, na reflexão dos aspectos que o cercam., sob um fio de ambigüidade marca uma distorção, sendo esta marca a do olhar do “homem côncavoâ€, segundo Frederico Bertolazzi: O sujeito de que o protagonista não consegue definir a identidade é a causa de seu deslocar ao longo do livro. A relação com a cultura da violência faz presente, numa absorção de medos, estranhamento e inquietação do protagonista. Daà a projeção da subjetividade faz-se num recurso de expressão em que o plano da imaginação atua no presente, entremeados de fatos paralelos os contemporâneos a ele, o Flashforward, ele imagina ora como sendo verdadeiros ou pelo menos possÃveis.
Estorvo revela uma influência inconteste com a obra “Zero†de Ignácio de Loyola Brandão, publicado depois de ser censurado em 1979. O cenário urbano e o clima turbulento são os mesmos, fragmentos sobre a cidade grande onde o casal José e Rosa vive em uma história de amor atravessando em todos os capÃtulos em forma de contos semi-autônomos. Chico Buarque bebeu desta obram onde o crÃtico Wilson Martins declarou que “Estorvo é um recozimento de Zero†assim como Fazenda Modelo (1ª obra de Chico) foi fruto da influência de George Orwell. Expressa que o romance Zero “é um livro muito mais interessante que Estorvoâ€. Numa comparação de leitura que fiz das duas existe de fato uma relação, um paralelismo com a obra de Ignácio, no que tange a espaço onde a narrativa se desenvolve; a temática é parecida e algumas vezes apresentam uma proximidade de fatos.
Uma análise se verifica no narrador-personagem, ele poderia ser tachado de VAGABUNDO, quando na realidade não é. Rotular alguém de vagabundo é ser demasiadamente redutor, e o conceito de vagabundo é muito vago, alia-se a quetão de produtividade Capitalista do termo, onde alguém que não tem atividade ordenada é simplesmente diminuido a tal termo. Na verdade, o personagem principal é uma vÃtima da MODERNIDADE, vÃtima de todo um projeto sobre o moderno, que aliena as pessoas, transportando a uma margem se sistema.
Apesar das dificuldades em certos trechos, Estorvo sobreviveria sem o nome de quem a provê, Chico Buarque de Hollanda. Traz uma renovação estética além de estar sintonizada com o seu momento, possui complexidade e maturidade literária suficiente para ter o destaque que teve. Embora acreditando que o sucesso desse livro resulta mais da fama do autor que a qualidade literária. O prestÃgio na mÃdia do autor transcende tanto é que o que venha escrever será sempre bem lido. Porém é necessário estender que não se espera como se esperou uma revolução na modernidade, ou seja, o livro não chega a revolucionar nada. Mas, é justo defender que a dinâmica de Estorvo, a autonomia contribui sem dúvida na Literatura Brasileira Contemporânea, ajuda a elevar a engenhosidade e talento para as letras do autor. O personagem principal de Estorvo é um personagem que com tais qualidades – sejam elas boas ou ruins, é a da fuga do ideal já batido do herói chamado de protagonista – este termo protagonista é apenas uma nomenclatura, apenas, para situarmos na obra Estorvo.
Claudio Sousa Pereira - Godi -
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