CONSCIÊNCIA

Filtro a minha tristeza e comparo-as a tantas outras tristezas. Tento pensar nas razões dos outros que as relatam por vezes com conformismo e o resultado é quase sempre absolutamente caótico…
Estremeço,
Envergonho-me,
Compadeço-me da minha falta de coerência espiritual!
De repente ponho-me a correr pelos campos alagados dos meus pensamentos, caio desamparada nessa água que se agiganta, e só me resta afogar no desespero de ter deixado morrer todas as flores que havia por lá.
Ah… quanto lamento por vezes, não ter envidraçado todas as borboletas que desmaiaram nos picos dos cactos. Eu prometi-lhes isso quando era criança. Quando as via esvoaçar no seu voo descomandado em direcção ao perigo. Essa começou por ser uma das minhas primeiras promessas olvidadas. Depois o despique de pequenas maldades infantis, quando me punha a tapar as tocas dos grilos que cantavam nas bermas dos rios mais límpidos dos meus olhos.
Terá sido a partir desse momento que desaprendi de ser criança?
Mas como se eu me sinto ainda criança tantas e tantas vezes?
Por mais cansada e triste que me sinta, elevo teimosamente as minhas perspectivas, com o mesmo vigor exasperado, do cântico asmático das rãs, que incham nos lagos de águas estagnadas.
Mas isso é sempre preferível, do que NADA…!
– Penso…
Sim, penso, repenso, impugno e decido!

Agora… só quero semear roseiras junto dos crisântemos arroxeados, para que as cores e o perfume solidifiquem dentro do meu espírito inquieto.
Quero pensar mais nos outros e menos em mim. Mais no que os outros sofrem e sentem.

Talvez nesse tipo de reflexão menos inclinada, eu tenha a percepção exacta do quão é subjectivo a relevância que inconscientemente dou ao escurecimento da minha alma.
Talvez, assim, por momentos… rasgue as minhas lamurias como rasgo versos antigos.
Talvez assim releve fundamentalmente as prioridades mais do que urgentes que é pensar em todos aqueles que sofrem os horrores da vida.
Talvez eu pense primeiramente nas vítimas das guerras. Nos que sofrem privações de liberdade por questões meramente politicas.
- A liberdade de expressão e de pensamento devia ser uma bandeira universal!
Talvez eu pense nas crianças que morrem à fome derivado à incúria e ganância dos homens. Naquelas que nos hospitais, por vezes gravemente doentes, nos sorriem com os seus olhitos encovados.
Talvez eu saia à noite e vá à procura dos desabrigados, daqueles que vasculham o pão nos contentores de lixo, ou reduzem a sua miserável condição humana à mendicidade e aos caprichos do nosso desejo em querer alterar um pouco o rumo das coisas…
Talvez… talvez!
Talvez a minha consciência se transforme numa andorinha que busca a Primavera e faça florescer na tua um jardim de ideais concretizáveis!

(VÓNY FERREIRA)