gdec2001
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« em: Maio 26, 2014, 16:17:30 » |
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Então Gilgamesh se levantou para contar o sonho que tivera à sua mãe, Ninsun, uma das deusas de grande saber. "Mãe, tive um sonho esta noite. Eu me sentia muito feliz, cercado de jovens heróis, e caminhava pela noite sob as estrelas do firmamento. Um meteoro, feito da mesma substância de Anu, caiu do céu. Tentei levantá-lo do chão, mas era pesado demais. Toda a gente de Uruk veio vê-lo; o povo se empurrava e se acotovelava ao seu redor, e os nobres se apinhavam para beijar-lhe os pés; ele exercia sobre mim uma atração semelhante à que exerce o amor de uma mulher. Eles me ajudaram; levantei seu corpo com o auxÃlio de correias e trouxe-o à vossa presença, e vós declarastes ser ele meu irmão." Então Ninsun, que é sábia e bem-amada, disse a Gilgamesh: "Esta estrela do céu que caiu como um meteoro, que tentaste levantar do chão, mas achaste muito pesada, que tentaste remover, mas que dali não arredava pé, e então trouxeste a mim; eu a criei para ti, para estimular-te como que com um aguilhão, e te sentiste atraÃdo como que por uma mulher. Ele é um forte companheiro, alguém que ajuda o amigo nas horas de necessidade. Ele é o mais forte entre todas as criaturas selvagens; é feito da substância de Anu. Ele nasceu nos campos e foi criado nas colinas agrestes. Ficarás feliz ao encontrá-lo; vais amá-lo como a uma mulher, e ele jamais te abandonará. E isto o que significa teu sonho." Gilgamesh disse: "Mãe, tive um segundo sonho. Um machado jazia no chão de Uruk das poderosas muralhas; seu formato era estranho e as pessoas se amontoavam ao seu redor. Eu o vi e fiquei contente. Eu me abaixei, sentindo-me profundamente atraÃdo por ele; eu o amei como a uma mulher e passei a levá-lo comigo, ao meu lado." Ninsun respondeu: "Aquele machado que viste, que te atraiu tão profundamente como o amor de uma mulher, aquele é o companheiro que te envio, e ele chegará com força e pujança como um deus da hoste celeste. Ele é o bravo companheiro, que salva o amigo que dele precisa." Gilgamesh disse a sua mãe: "Um amigo, um conselheiro chegou até mim vindo de Enlil; serei, pois, seu amigo e lhe darei conselhos." Gilgamesh assim narrou seu sonho; e a rameira o repetiu para Enkidu. E ela disse então a Enkidu: "Olho para ti e vejo que agora és como um deus. Por que anseias por voltar a correr pelos campos com as feras do mato? Ergue-te do chão, a cama do pastor." Ele escutou com atenção suas palavras. Era um bom conselho que lhe dava. A rameira dividiu sua roupa em duas partes; com uma metade o vestiu, usando a outra para si. Tomando Enkidu pela mão, como a uma criança, ela o conduziu ao aprisco, para as tendas dos pastores, que se amontoaram ao seu redor para vê-lo. Eles depositaram pão à sua frente, mas Enkidu só estava habituado ao leite que sugava dos animais selvagens. Ele se atrapalhou com as mãos e pasmou, sem saber o que fazer com o pão e o vinho forte. A mulher então disse: "Enkidu, come o pão, é o suporte da vida; bebe o vinho, é o costume da terra." Enkidu então comeu até ficar satisfeito e bebeu do vinho forte, sete cálices. Ele ficou alegre, seu coração exultou e seu rosto se cobriu de brilho. Enkidu escovou os pêlos emaranhados de seu corpo e untou-se com óleo. Ele se transformara num homem; mas, ao vestir as roupas humanas, ficou parecendo um noivo. Ele se armou para caçar o leão, para que os pastores pudessem repousar à noite. Ele caçou lobos e leões, e os pastores puderam dormir em paz, pois Enkidu, aquele homem forte e sem rivais, era seu sentinela. Ele se sentia feliz vivendo com os pastores, até que um dia, levantando o olhar, viu que um homem se aproximava. Ele disse à rameira: "Mulher, traze aqui aquele homem. Por que veio aqui? Quero saber seu nome." Ela foi e chamou o homem, dizendo:
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