marcopintoc
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« em: Julho 22, 2008, 16:21:01 » |
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A grande monumental de Madrid, Praça de Las Ventas del Espiritu Santo’, Las Ventas como é actualmente conhecida. Caminhamos apressados, eu e os meus colegas ,Alfonso e RodrÃguez ; o metro vinha atulhado, hoje é dia de corrida e vinte cinco mil almas de “afición†apressam o passo para não perder o primeiro da noite. Hoje é um dia especial, Manuel vem connosco. Espera-nos junto à porta. É um dos porteiros do edifÃcio onde se situam os escritórios onde trabalho, a reforma não tarda para bem das suas costas cansadas, respira touros, comenta, discute , faz saúdes com Pedro Jimenez a novilheiros promissores . Vamos aos touros com uma verdadeira enciclopédia, a paixão que expressa quando fala é contagiante. Os seus “Estive lá†fazem quase visualizar o momento em que o arriscado movimento do Farol foi efectuado pela primeira vez. Ele diz que a praça explodiu em ovação. O Matador saiu em ombros pela Porta Grande. Foi Manuel que me trouxe pela primeira vez a Las Ventas. E o que foi um relutante gesto de educação para com um homem idoso e os seus inúmeros e insistentes convites (Confesso que na altura pensei «Estes gajos não tem forcados; para isso é que é preciso tê-los») tornou-se uma aula sobre a corrida à Espanhola e toda a paixão que a rodeia. Era óbvio o conhecimento do meu companheiro; ao terceiro da noite, após a primeira investida aos peões de brega declarou: - Vê mal do olho esquerdo – apontando com o eterno Fortuna em direcção à besta. De facto, durante toda a lide ,o touro apresentou uma tendência para curvar, um dos bandarilheiros sentiu-o na pele. Bateu algumas palmas mas nunca se emocionou. Quando a banda entoou o fecho pediu-me desculpas por me trazido a uma má corrida. Estava enganado, eu tinha adorado.
Mas hoje a ansiedade era visÃvel no rosto de Manuel. O nosso atraso foi censurado por um indicador amarelecido da nicotina ostensivamente apontado ao relógio. Encolho os ombros e peço-lhe desculpa, o conselho de administração pedira um parecer urgente. Eleva irado o braço e atira um “Ahhh “ de desdém para o ar: - Cabrones. Fica mais sereno após acender o primeiro cigarro. O cheiro ocre invade o ar. Três filas abaixo um grupo de turistas tosse, um mais afoito protesta em inglês, Manuel responde qualquer coisa que inclui « Tu madre » em alto e bom som. Pelos risos dos espectadores do nosso sector ecoa aprovação. Quando começa a corrida e entra o matador retumba uma imensa salva de palmas. Manuel levanta-se, por arrasto faço o mesmo. Toco no ombro de Manuel e inquiro o que se passa. A expressão no seu rosto é de indignação, heresia: - El Juli – a expressão de ignorância no meu semblante é tão óbvia que complementa –Figo de los toros. - Já podias ter explicado – amuo divertido. Olho em volta, todos os olhos estão pregados na porta por onde sairá o animal. Fixo o olhar numa belÃssima espanhola quase inocentemente adornada num simples vestido branco. A pele sabe a sol da Andaluzia, os olhos são dois carvões negros e efervescentes dos fornos de Vulcano ; uma mão forte de dedos longos cobre o peito e termina no pescoço, comprido e sensual como o de uma égua. Os lábios carnudos apresentam aquela semi abertura que revela um pouco dos dentes e alguma excitação. O touro entra e pretiro a sua carga impetuosa pela contemplação da mulher que entoa um “Oohhh†em unÃssono com a turba. Inclina a cabeça para trás como se os seiscentos quilos de força bruta tivessem investido através de si. Devolvo o olhar à arena. É enorme, sessenta metros de diâmetro, de um lado, já ofegante ,o touro ;do outro o homem e o seu capote. Manuel sacode-me o ombro e aponta para o toureiro: - El Figo – e entoa uma estrondosa gargalhada. O touro investe, o silêncio faz-se. Inicia-se a dança, o primeiro tércio , sorte de varas , o capote descreve com mestria sequencias de Chicuelinas , Verónicas e Navarradas a um ritmo alucinante. Escutam-se os primeiros “Olésâ€. Olho para o lado e procuro o rosto de Manuel, cravou um olhar febril no redondel. Dos seus lábios, em murmúrio, sai uma oração.
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