Goreti Dias
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« em: Outubro 13, 2007, 06:33:44 » |
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Guida acaba de almoçar num dia quente de Sábado. Prepara-se para ouvir um pouco de música, mas o toque do telefone muda-lhe os projectos. Ansiosa: - Sim... - Guida, sou eu. Não queres tomar um café? - Onde? – pergunta, alegre. - Em minha casa. Guida aceita e toma nota da morada. Afinal, Mário morava num apartamento também. A moça fecha a porta de sua casa e dirige-se à garagem de onde retira o seu carro. Segue até à rua indicada e estaciona perto do prédio. Quando procura o número da porta vê Mário na varanda de um dos andares. A porta da rua já está aberta e ela sobe as escadas. Não usa o elevador. A subida permitir-lhe-á serenar os ânimos, prepará-la para o encontro. Mário espera-a na porta do apartamento. Recebe-a com um abraço bem forte e, num sussurro, diz-lhe ao ouvido: - Querida, eu nem tenho café... - Não faz mal – respondeu Guida. E cola os seus lábios aos dele com paixão. Ele pega-lhe ao colo e em poucos segundos ela está sobre a cama de Mário. Cada beijo um suspiro, cada botão desapertado um gemido. Quando ele a possui, enfim, ela grita de prazer. O Infinito estava tão perto! Quando procurou as suas roupas para vestir, no emaranhado que jazia aos pés da cama, ficou boquiaberta. O seu lindo vestido de seda parecia um trapo. Pô-lo na sua frente e disse a Mário: - Olha só! Como vou sair à rua com um vestido assim? Parece que dormi com ele! Mário ri e comenta: - Podias ter chegado aqui e ter feito algo de diferente do que fizeste! Com um beijo daqueles, como querias que me lembrasse de te oferecer um cabide para o pendurares? Da próxima vez prometo lembrar-me. - Da próxima vez, eu trago calças de ganga, te juro! Só que a próxima vez demorou a chegar como, aliás, qualquer notícia dele. Passou-se seguramente um mês sem que ele lhe telefonasse. As saudades aumentaram e ela ganhou coragem para lhe telefonar para a empresa. Enquanto esperava que a secretária lhe passasse a chamada, ela pensava se estaria certo ser ela a ligar-lhe, mas o seu amor era maior que todos os preconceitos. Mário atende: - Sim! - Sou eu, Mário, a Guida, se é que ainda te lembras de mim! - Claro que me lembro – declarou numa voz que, a Guida, pareceu fria - Olha, eu ligo-te logo à noite para tua casa. É que estou muito ocupado agora. - Está bem, como queiras! Até logo. Na verdade, à noite, Mário telefonou. Só que tinha uma proposta bem diferente da que Guida imaginava. Segundo Mário, os seus pais estavam por uns tempos no seu apartamento. Convidou-a para se encontrarem numa residencial. Ela encontrar-se-ia com ele numa cidade próxima e seguiriam, depois, juntos. Guida aceitou. Afinal queria tanto encontrar-se com ele! Mas parecia tudo tão clandestino que isso lhe desagradou. Podiam encontrar-se no apartamento dela e estava o assunto resolvido, mas ele não quis. Inventou uma desculpa de vizinhos que podiam ver, o que a comprometeria. Não ficou muito convencida, mas foi. Quando pisou o primeiro degrau da residencial, sentiu-se como uma criminosa. O seu amor cheirava a crime. No quarto, ela esqueceu tudo nos braços dele. Os seus beijos eram possessivos, as suas carícias deliciosas, o seu jeito de amar estonteante. Depressa, depressa, se sentiu nas nuvens e quanto mais alto foi o voo, mais dolorosa foi a queda quando ele pediu: - Vamos embora? Guida ficou estupefacta. Tinham acabado de fazer amor, nem sequer haviam conversado. Ele nem lhe explicara a razão do seu demorado silêncio. E nem lhe falara dos seus sentimentos. O Absoluto estava longe, agora, e o Infinito era cada vez mais o infinito. Que desilusão! Tinham ido ali como qualquer pêga e respectivo freguês. Saíram e, sem palavra, dirigiram-se ao carro estacionado. Mário levou-a até onde ela deixara o seu. Um beijo frio foi a despedida. Passaram dois meses. Um dia, após o almoço, o telefone toca no apartamento de Guida. Ela atende e tem uma surpresa: - Mário? Tu? - Sim, Guida. Queres tomar um café? Se Guida tivesse um pouco de amor-próprio, teria dito que não em resposta à pergunta que se tornara para eles uma espécie de senha. Mas não tem sequer um pingo de amor próprio. Como sempre na sua vida, o amor e a paixão venceram. Ela ainda o amava e, por isso, perguntou: - Onde? - Em minha casa, amanhã depois de almoço. - Está bem. Até amanhã. - Até amanhã. No dia seguinte , quando Guida estacionou em frente ao prédio de Mário, este já a esperava à porta. Não a beijou, não lhe estendeu a mão, apenas disse: - Lamento mas a minha mãe está cá. Chegou hoje de surpresa. Não pode ser nada, assim. Fica para outra vez, sim? Olha, agora tenho que ir ao banco. Até qualquer dia. Guida detestou a sua maneira de agir e disse-lhe: - Mário, não gosto que só me telefones para termos encontros mais ou menos clandestinos. Fazes-me sentir uma qualquer. - Vou telefonar-te mais vezes, verás. Mas nunca mais telefonou. Encontraram-se algumas vezes em casa de amigos e na rua, casualmente. Ele falava com ela como se não tivessem sido íntimos. Não foi capaz de lhe explicar porque deixou de a procurar, era um cobarde provavelmente. Mas a dúvida ficou sempre no espírito de Guida. Que lhe fizera ela? Nada. E, se tivesse, a obrigação dele era pedir-lhe esclarecimentos. Mas não pediu. Guida conseguiu ter algum orgulho e não lhe perguntou nada, apesar de todo o sofrimento que a separação brusca e inexplicável lhe causara. Foram meses de dúvidas e incertezas atrozes que jamais lhe deixariam de atormentar o espírito. O futuro não poderia trazer-lhe resposta alguma. Até que um dia...(como ela se lembrava bem!) ligou o televisor e ouviu: ”Muito boa noite! Estas serão as notícias que poderão acompanhar mais logo no Telejornal deste dia 6 de Junho.
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