NA PRATA, A MÁGOA, A MADRUGADA

[Sandra Fonseca]

Sou imperfeita,
Na perfeição das águas revoltas.
Lembra-me leito devorando
As horas,
Inexorável,
O meu rio de tristezas.

Lembra-me,
Destino de seguir
Sonhos desfeitos,
Sem nunca tocar as margens,
Fluindo paisagens
No espelho.

Canto uma canção
Sem nexo,
Desde que sentido não há
Nos cânticos dos amores perdidos.
Rio, mar
Sentenciada eu sigo,
Esperando noutro ser,
Terra e continência
Do que me inunda
E avassala.

E mais possuirei em mim
De ti,
Nesta voragem,
Porque bebi na fonte
Das tuas asas,
Pois lembra-me,
Sou água,
E posso partir.

Eu posso eternizar
O presente,
A voz, o gesto amado,
Enquanto ocupo os portos abandonados,
E ouço todos os lamentos
Do mar, dos ventos,
Das estrelas a se danar
Num céu desesperado.

E o céu é um imenso pano
De fundo negro,
Enquanto a lua
Desenha seu perfil,
Na prata,
A mágoa,
A madrugada.

[Goreti Dias]

"sentido não há
Nos cânticos dos amores perdidos."

Há sentido aqui! E muito!
Bj

[Sandra Fonseca]

Goreti,
Obrigada pelo comentário sempre sensível.

Domingos,
Seus comentários são quase um prolongamento do poema. Sempre obrigada.
Abraços.

[Mel de Carvalho]

"E o céu é um imenso pano/De fundo negro,/Enquanto a lua/Desenha seu perfil,/Na prata,/A mágoa,/A madrugada."

é, minha amiga, sem dúvida. e nós por vezes luas de prata e noutras vezes negras luas, encetamos viagens que se esgotam apenas nos rios abertos das nossas próprias asas.

muito belo, amiga. muito mesmo
Mel

[Sandra Fonseca]

Caro Luís Filipe,
Agradeço o comentário cuidadoso que deixou aqui.
Abraço.

Querida Mel,
Escrevemos sob todas as cores da lua e suas faces.
Beijo, irmã.