O Contraventor (II)

[Manuel Antunes Cardoso]

Quando se aproxima domingo, a felicidade pateta estampa-se estrondosamente nos rostos das gentes comuns, quando se deixa o lufa-lufa das vidas laborais, dos engasgos e das insatisfações profissionais - sempre , ou quase sempre, com um sorriso subserviente nas fuças - arquitecta-se a arte de parecer feliz, faz-se o pleno da hipocrisia. E é por demais confrangedor quando nos demoramos na observação do arquétipo da família feliz, sentir que “ela” não “o” suporta, constatar o olhar “dele” sempre fixo em cada mulher que passa  -ou em outro género se assim for a preferência do cônjuge – e, verificar que aqueles filhotes, repletos de pizzas, hambúrgueres e arrotos de refrigerantes vários, são ou deveriam ser, filhos de outra gente, serem apenas filhos de pais com amor de pais.
  E venham depois lamuriar-se dos patrões, dos colegas de trabalho, dos políticos, dos vizinhos, da família, e até dos amigos – mas será que esta gentinha tem amigos? – venham depois montar o circo dos ofendidos, dos atraiçoados e dos explorados que eu, cá por mim, já embarquei em rota diversa!
 Gosto de todas as contravenções, mesmo daquelas que me assassinam, só não simpatizo com formalidades e narizes de cera!


Manuel Antunes Cardoso
 

[Goreti Dias]

Um olhar ácido sobre a sociedade... verdades que muitos não querem ver, mas todos conhecem mais ou menos de perto...
Uma crítica a não desprezar pelos que querem melhorar o mundo dos afectos...
Um abraço

[Manuel Antunes Cardoso]

Grato pelo seu comentário, amiga Goreti, mais grato ainda fico, por esta ser uma tímida tentativa de tentar prosear um pouco , de tentar em prosa o que não almejo em poesia!

Um abraço

Quando se aproxima domingo, a felicidade pateta estampa-se estrondosamente nos rostos das gentes comuns, quando se deixa o lufa-lufa das vidas laborais, dos engasgos e das insatisfações profissionais - sempre , ou quase sempre, com um sorriso subserviente nas fuças - arquitecta-se a arte de parecer feliz, faz-se o pleno da hipocrisia. E é por demais confrangedor quando nos demoramos na observação do arquétipo da família feliz, sentir que “ela” não “o” suporta, constatar o olhar “dele” sempre fixo em cada mulher -ou em outro género se assim for a preferência do cônjuge – e, verificar que aqueles filhotes, repletos de pizas, hambúrgueres e arrotos de refrigerantes vários, são ou deveriam ser, filhos de outra gente, serem apenas filhos de pais com amor de pais.
  E venham depois lamuriar-se dos patrões, dos colegas de trabalho, dos políticos, dos vizinhos, da família, e até dos amigos – mas será que esta gentinha tem amigos? – venham depois montar o circo dos ofendidos, dos atraiçoados e dos explorados que eu, cá por mim, já embarquei em rota diversa!
 Gosto de todas as contravenções, mesmo daquelas que me assassinam, só não simpatizo com formalidades e narizes de cera!


Manuel Antunes Cardoso
 

[goncalos]

Está uma crónica bastante acutilante, bem-escrita e até corajosa em certo ponto por abordar pontos pouco simpáticos para a maioria das pessoas. Em todo o caso é a sua opinião que está aí bem patente e bem escrita... e isso em termos de crónica é o que se pede. Eu, pessoalmente gosto de ver a realidade com contornos mais risonhos e mesmo de acreditar que ela é mais risonha, mas reconheço um bom pedaço de texto e uma boa opinião quando vejo uma. Muito bem!

[britoribeiro]

Ela que não o suporta, ele que olha para as outras, os putos que arrotamam a refrigerante, uma visão corrosiva de um tipo de sociedade que se rege pelas aparencias, que interpretam na vida real o papel (burlesco) da família feliz. Gostei.

Abraço

[Manuel Antunes Cardoso]

É com imenso prazer que recebo a sua visita, amigo Gonçalo, creia-me sinceramente grato!

Abraço

Está uma crónica bastante acutilante, bem-escrita e até corajosa em certo ponto por abordar pontos pouco simpáticos para a maioria das pessoas. Em todo o caso é a sua opinião que está aí bem patente e bem escrita... e isso em termos de crónica é o que se pede. Eu, pessoalmente gosto de ver a realidade com contornos mais risonhos e mesmo de acreditar que ela é mais risonha, mas reconheço um bom pedaço de texto e uma boa opinião quando vejo uma. Muito bem!

[Manuel Antunes Cardoso]

Bem-haja pela atenção dispensada ao meu escrito, amiga Dite!

Surpreendente e "constrangedora" esta crónica: cena que pode ser real da "A família é bela e feliz!"...
Gostei de ler o tom "verdadeiro" e de certo modo humorístico, desta prosa bem escrita!
Sim, há famílias e FAMÍLIAS!... A cada uma cabe gerir, o prazer e a alegria do encontro e o desenvolvimento das sensibilidades ou Conhecimentos, aos fins de semana, dias feriados e férias. O envolvimento em actividades diversas de todos os seus entes a quem chamam de queridos, não é de facto de menosprezar e será compensador.

Fora com a monotonia! Viva a transparente companhia!


Um grande abraço amigo!

[Elsa Caetano]

Manel,
Regozijo-me ao ver-te prosar, caminhar nas linhas horizontais e surpreender com o habitual talento.
Filtras a mesquinhez com rede de pesca, apanhando o que de grosso modo se vê calcorreando as ruas.
Quero ter o prazer de te ler, quando resolveres usar rede mosquiteira...

Beijinhos prosados com orgulho de ti***

[Manuel Antunes Cardoso]

Muito me honra a tua visita e o teu gentil e generoso comentário, para quem como eu, "ainda não sabe andar nisto", é imensamente estimulante poder contar com as tuas palavras de ânimo!

Um abraço!

Manel,
Regozijo-me ao ver-te prosar, caminhar nas linhas horizontais e surpreender com o habitual talento.
Filtras a mesquinhez com rede de pesca, apanhando o que de grosso modo se vê calcorreando as ruas.
Quero ter o prazer de te ler, quando resolveres usar rede mosquiteira...

Beijinhos prosados com orgulho de ti***