Tocam os sinos!

CRÓNICA DO FIGAS

TOCAM OS SINOS!...

Ele andava, nestes últimos dias, enxofrado com notícias, em catadupa, sobre o drama nacional dos clubes de futebol, no carroussel do sobe e desce de divisão.

Ele sabe que se liga muito ao futebol e que muitos dos seus actores são levados, numa primeira fase, se marcarem muitos golos, à categoria de heróis nacionais, e depois, numa segunda fase, até podem chegar a deuses ou a santos, conforme as fundações fundadas para a caridade ao próximo! Valha-nos ao menos isso! Diz ele.

Sem mais nem menos, o meu amigo descambou para o esotérico, mas era mesmo disso de que queria falar e que aqui trago para a minha pequena crónica sobre costumes locais. A sua casa está perto da igreja da sua freguesia, e dessa igreja, mais propriamente de vários altifalantes instalados na sua torre sineira, ele tem que gramar as homílias, aos Domingos, do seu Abade, cavalgadas nos quilos de decibéis. Ouvem, não só os que estão dentro da igreja, como também os que de fora ficaram, como ele, em casa, na doce sorna do leito e que o acordam, logo a mandar o Abade para o Inferno!
-“Admiramo-nos com o fanatismo dos mouros, mas na minha terra, que até já é uma Vila, não lhes fica atrás! Somos todos ainda vilões. Nunca mais chegamos a citadinos!”, diz ele.

Mesmo, quem não queira, zás! Leva com a “boa nova” nas orelhas, mesmo que sejam mentiras velhas! Na placidez duma manhã soalheira, troa, ribomba a voz do “Frei Tomás”, em qualquer Abade, do género do olhai para o que ele diz, mas não para o que faz!

O que seria engraçado, lá isso seria, era nas igrejas da Cidade do Porto, também aos Domingos, todas ao mesmo tempo, transmitirem, para o exterior, as homílias de cada Abade. Seria uma festa1 Um concerto divinal! Imginem a concorrência entre a Igreja dos Clérigos, da Sé, dos Congregados, de São Nicolau, de S. Pedro de Miragaia, de Santo Ildefondo, Bonfim, etc! Seria os "anjinhos" a falar e os "anjolas" a ouvir!

Ele diz que o Abade da sua freguesia tem boa voz! Lá isso tem! Se fosse fazer uma “perninha” ao Porto, o Bispo não ficaria desapontado. A sua voz não chega ao céu, mas que chega longe, lá isso chega!

Sempre que isso acontecesse, ele, que vive nas delícias do campo, sempre dormiria mais sossegado, mais um bocado aos Domingos, sem ser acordado por uma voz “celestial”!

Ele promete se se calarem os alifalantes, ir mais vezes à igreja. Assim, não.
Sempre que é pelo Abade acordado, manda-o para o Inferno e vira-se para o outro lado!
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Autor: Silvino Taveira Machado Figueiredo
(o figas de saint pierre de lá-burque)