antónio paiva
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« em: Agosto 16, 2008, 15:57:35 » |
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Às vezes sonho-me escritor e poeta mundano, perdido entre mil e uma aventuras de cabarés manhosos. Com os bolsos a abarrotar de prosas e poemas afogados em tumultos. Magoado por remorsos absurdos, nos braços de uma prostituta em trajes de cerimónia. Em todas as mesas haviam punhais cravados. No canto mais escuro o fado cantava dorido, de vestido negro e xaile traçado. Seria eu um cavaleiro quase louco, a espalhar ilusões nos sobrados, solidificando o sangue que escorria. Seria o amparo de todas as viúvas desgraçadas, numa luta insana, formaria um autêntico exército fardado a rigor; xailes negros e lenços pretos na cabeça. E proibia as beatas de se juntarem nas sacristias, para jogar à canasta e falar de vidas alheias. Ah! Se a luxúria fosse virtude eu seria nomeado bispo, não poderia ser de outro modo, se o fosse, seria uma tremenda injustiça. O que muitos não sabem, é que em literatura; tudo pode ser convertido em virtude. E cá ando eu com as gavetas cheias de punhais, em vez de prosa e poesia. A desenhar assassinatos secretos de mim. Neste antro enferrujado com cheiro a sangue. Instável e estonteado, num frenesim em todas as direcções, amaldiçoando cabarés e prostitutas. Bradando impropérios, cala-te poeta, cala-te poeta! E tu maldito prosador, de que te ris, maldito prosador, de que te ris?
Maldito surrealista, vou matar-te.
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