Morte

[JLMike]

Um revólver frio encostado na testa. Sinto-o pressionar entre os olhos enquanto, vagamente, vejo o meu atacante. Ponho-me de joelhos, calado e quieto.
Ele grita, agita os braços, tira-me o revólver da testa, dá-me um murro na cara. Dor. Dor aguda e menos um dente, que cai no chão desamparado. Um fio de sangue escorre-me da boca e o atacante leva-me a arma à boca. Ouço o gatilho desprender-se. Nunca um som me agoniara tanto. Mas ele volta a tirar a arma da minha boca, volta a agitar os braços. Mais um soco, menos outro dente, mais sangue. Encosta-me o revólver de novo na testa, da ponta da arma escorre do meu próprio sangue e pinta-me a cara com lágrimas vermelhas. Um pontapé no peito e eu caio para trás com falta de ar. Estico as mãos ao alto como se elas pudessem respirar por mim. As lágrimas vermelhas escorrem até ao queixo e pingam-me a roupa, sujam-me o pescoço.
Tento levantar-me e sofro uma rasteira de tal violência que sinto o meu calcanhar estalar. Dor. Dor. Dor. Ainda mais dor enquanto era pontapeado por todo o corpo; pernas, verilhas, barriga, peito, cara. Dor. Dor. Dor. Onde está a dor? Sinto os pés tocarem-me e abalarem o meu corpo com força mas já não sinto dor. Estarei morto? Estarei vivo? Estarei a morrer? Dor. Dor. Dor. Dor. Onde está a dor?! Eu quero a dor! Quero a vida. Já não a sinto dentro de mim. Estou suspenso por uma corrente, fina e ferrugenta.
Sinto o frio do revólver pousar na minha tempura. E mais nada.

[João Videira Santos]

Um conto breve que não desgasta a paciência.
Se outro valor não tiver, tem esse mérito.

[Leto of the Crows]

Acho que até eu senti dores...

Está um pequeno mas óptimo texto 

[Goreti Dias]

O não sentir nada é que é sinal de morte!
Um bom texto.