o Tejo, ainda

[gdec2001]

Tejo


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No verão, quando sai do trabalho, vem para casa a pé.
Percorre apenas cerca de dois quilómetros mas demora mais que uma hora porque passeia os olhos pelos edifícios, pelo Tejo e pela ponte ao longe, achando sempre tudo diferente do que era ontem e anteontem.
A ponte está suspensa sobre o rio, adormecida pela lonjura, apesar da turbulência que se pressente na sua superfície cheia de carros que, a esta distância, semelham os de brincar.
Os tramos, quando o sol bate nas asnas ou naquilo que como tal se assemelha, aparecem-lhe como chamas vermelhas petrificadas pela distância e aqueles que ficam à sombra são plúmbeos, quase negros. E há algumas zonas intermédias em que as chamas irrompem, subitamente, no meio da escuridão.
A água do rio parece palpitar e goza de todas as cores apesar de haver sempre uma dominante. Às vezes é o verde, outras vezes o azul e outras um cinzento, da cor das nuvens no inverno e sempre, sempre dos múltiplos tons destas cores .
Ela ainda se lembra de quando ali se viam golfinhos e, seguindo com os olhos alguma coisa que flutue na água, afigura-se-lhe tornar a vê-los fulgindo e brincando na distância .
Mas gosta mais de observar o Tejo quando está ligeiramente encapelado e quase negro.
Por vezes vê-se mergulhada nele, ali, na profundidade.
A ondulação é, raras vezes, forte e perigosa, arrepia-se.
Nessas alturas devia odiá-lo mas ama-o.

Geraldes de Carvalho
Um pedacinho do romance na gaveta " Uma estória quase vulgar ou Sortilitejo"

[Vanda Paz]

Olá amigo Geraldes

Esta estória podia ser minha

Quando era menina e estudava na zona de Belém, antes de ir para casa passava na Torre de Belém e por lá me esquecia a ver a ponte e a olhar o Tejo. Muito falei eu com o Tejo, meu conselheiro, meu amigo sempre presente. As cores, a força, a magia... até os sonhos...

Hoje, estou tão longe dele, mas ele ainda corre dentro de mim

Faça o favor de tirar o resto da estória da gaveta

Abraço enorme

[Vóny Ferreira]

Excelente e belo texto
Fiquei igualmente curiosa para ler o
desenrolar da história.
Um grande e afectuoso abraço,
Geraldes.
Vóny Ferreira

[gdec2001]

Agradeço-vos Vóny e Vanda pela leitura e apreciação.
O romance é muito extenso para ser publicado aqui. Mas publicarei as partes em que fala do Tejo . E para começar...já comecei .
um,dois abraços
Geraldes de Carvalho

[Dionísio Dinis]

Um texto que nos faz sentir e apreciar todas as nuances e beleza do rio.Por mérito próprio do escritor, ficamos aqui a ser parte integrante desta bela história.

[Goreti Dias]

Onde o amor e o ódio se juntam num belo text! Muito bom!
Abraço

[gdec2001]

Muito agradecido , Dionísio, pela sua apreciação

E também a si, minha fiel e sábia leitora .
um abraço Goretti

um abraço Dionísio

Geraldes de Carvalho