Tino Saganho
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« em: Fevereiro 09, 2008, 01:34:48 » |
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A Noite Era Escura como Breu... Estávamos em pleno mês de Julho. As temperaturas oscilavam entre os 35- 40 graus. Nessa pobre e pequena aldeia rural – com cerca de 120 casas e 400 pessoas - vivia-se horas e dias de desespero, por falta de penso para o gado. Os celeiros estavam completamente vazios. Nem uma ração de milheiro ou palha para desaugar os animais. Toda a área envolvente da diminuta aldeia, no sopé da montanha, onde normalmente o gado pasta, tinha sido rapada rente ao solo, pelo gado ovino e bovino. Quem tem “pé - de - meia†compra as rações aos grandes armazenistas. Quem não tem, mete-se serra acima…, na esperança de conseguir matar a fome aos animais.
Nessa madrugada…, o Jonas levantou-se cedo - logo após o galo ter cantado - decidido a subir a serra até ao cume com as suas cabras. Ele sabia que aà encontraria fartura de alimento, visto que são poucos os que se arriscam a tão arrojada aventura. Providenciou a sua estadia para uma semana porque, como gasta 3 horas de caminho para cada lado, o ir e voltar no mesmo dia, seria impensável. Reuniu, então, alguns alimentos - quase todos à base de conservas – muita fartura de água e uma vasta diversidade de utilidades pessoais que adivinhava serem necessários. Claro que não se esqueceu da velha caçadeira que o seu extinto pai - que também foi pastor – lhe tinha deixado. Reuniu, então, todos os animais e, depois de os contar, começou a escalar os estreitos e sinuosos caminhos da serra. Quem, do vale onde se situa a aldeia, olhar a montanha, não se apercebe da sinuosidade e perigos do seu percurso até ao topo. Além do denso arvoredo e matagais que dificultam a visibilidade e dos precipÃcios que, ao menor descuido seriam fatais..., há ainda os animais selvagens sempre atentos aos nossos descuidos... Enfim, um perigo sempre eminente! Apesar de consciente de todos esses perigos…, o Jonas pôs a sua audácia à prova! Com a ajuda do seu cajado e a companhia do seu fiel cão “pastor da serra†que, num constante vaivém, lhe ia empurrando as cabras serra acima, atingiu o almejado cume, onde o Sol já brilhava intensamente.
Depois de encontrar o lugar ideal – com abundante pasto e água - deixou a “cabritada†a fartar... e tratou de improvisar abrigo para passar a noite. Finda essa tarefa, deitou-se no interior do mini quarto improvisado e, embalado pela música do seu rádio portátil, adormeceu. Acordou ao cair da tarde, com o seu fiel deitado a seus pés, mas de orelhas bem afitadas... Depois de passar a “ronda†aos animais e os encontrar de barriga farta..., deleitou-se a admirar o vale, visto do cume da montanha. A aldeia, já pequena de si, afigurava-se-lhe uma miniatura de casinhas e carreirinhos, mas aos seus olhos, era de uma beleza incomparável. Era a sua aldeia natal! O denso arvoredo que circundava o local onde concentrou as cabras, ia abreviando a noite naquele local. Eram horas de contar os animais e de os aconchegar junto da sua minúscula tenda, para melhor protecção. Jonas, embora homem de uma grande coragem, sentia-se de certo modo receoso. Era a sua primeira aventura na serra e preparava-se para a viver no cume dessa enorme montanha. A noite estava escura como breu! Deu o osso – mal rapado - ao cão e, depois de comer o seu jantar e colocar a carabina à mão...deitou-se ao lado do seu fiel companheiro.
Reinava o silêncio na área. Cansado como estava da difÃcil escalada, o pastor dormiu as primeiras horas profundamente. A noite caminhava para o seu fim e as últimas trevas estavam prestes a extinguir-se. De repente o cão levantou-se, de orelhas espetadas no ar e rabo erecto! Quando o animal tem este comportamento é porque há perigo perto. O Jonas levantou-se num ápice, pegou na caçadeira e pôs-se à escuta. Um pequeno ruÃdo, logo seguido de grande alvoroço entre os cabritos. Correu para o local, atrás do cão, que voou por entre giestas e mato. Uma mistura de latidos e uivos ecoavam pela serra. O cão estava em luta com algum animal feroz. O gado fugia espavorido, tropeçava, escorregava, caÃa. Jonas correu na direcção dos latidos e apercebeu-se que os animais lutavam em movimento... Atónito, por momentos não sabia bem o que fazer. Depois correu a juntar o gado que andava disperso e assustado. Entretanto o barulho da luta tinha terminado. Pairou um silêncio assustador! O coração do pastor pulava dentro do peito. A incerteza asfixiava-lhe a respiração. Sentou-se, no abrigo e murmurou: - Ó meu fiel companheiro, regressa! Não me abandones nesta serra medonha! E quando ele regressou, banhado de sangue, todo o seu corpo ficou estático. O cão latiu duas vezes, abanou o rabo como que a dizer: - Comigo está tudo bem! E estava, porque o sangue era do feroz lobo que ele tinha acabado de vencer.
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