CIDADE DO CAOS

[CAMPISTA CABRAL]

Duas medidas e dois pesos. A vida. O fragmento de vida que se mostra nos jornais e nas ruas. E tudo é igual. Os bêbados e os vagabundos e os boêmios e os amantes e os traficantes são os mesmos. As balas e as lascas e os tocos e socos que se somam em um dia de calor no Rio. Não são 40ºC. São mais quentes as fogueiras e explosões na periferia. Ônibus queimado e querosene e óleo cru no corpo. Pneus e gente. Morte. Dois quartos de hora. E a viatura da polícia passa devagar. Dois pesos e duas medidas. A vida. O resto de vida que se insinua nos becos cariocas. Grito. Incendeia! Incendeia! Tu vai morrer mermão! Tu vai queimar mermão! Não são irmãos e não são amigos. Bandido e mocinho. Mas também não é filme. Chamas que se veem ao longe. E a cidade não dorme. Dizem que dorme, mas não dorme.  E quem sabe que ela não dorme também não dorme e queima junto e grita junto e corre e clama. Pesos e medidas. Medidas e pesos. Dizem que alguém tem culpa. E quem não tem? Dizem tantas coisas na rua. Depois da pirueta e dos braços erguidos com o fuzil na mão, os garotos-quase-homens somem na poeira e na escuridão. Amanhã outro dia e outra hora. Outros culpados e novos incêndios. Tu vai vê mermão! Duas medidas e dois pesos. Duas leis. Uma a que todos sabem. A outra a que ninguém vê...

[Alexa Wolf]

Caótico mesmo.
Quase nem respirei...

Meu amigo depois deste caos, por favor dê algo de bonança...

Tão bem escrito que nem respirei....

Parabéns

Jinhos

Alexa

[Tere Tavares]

As fundações do Rio tem origens sabidas e desconhecidas. Acepções próprias e induzidas, senhores e plebes desde a descoberta, império e república, heranças de povos aqui vindos em navios legalizados, permitidos, e não-permitidos, correntes que hoje são fogueiras retardadas ou reprimidas de há muito, e o caos tem suas próprias leis, como a Terra e suas placas tectônicas - será assim essa sociedade miscigenada - por forças tão desiguais, onde a liberdade por tanto tempo clamada e não ouvida, dita suas próprias "soluções”?
Começar novamente, recomeçar, reeducar, calcorrear traumas e mazelas... o morro e a areia, a ameia ...vai daí que irmão não há, se família não houve. O mar nem tudo cala. Ou esconde. O Rio tem mares tanto belos quanto impossíveis, tanto azuis como vermelhos. Todo mundo vem ao Rio para ver o mar?  É de extasiar. E de estarrecer. Só.

[cleo]

Um texto que li como se de um filme se tratasse. As imagens geradas na minha mente, deram-me a percepção perfeita da visão do autor sobre um tema bem real e cada vez mais perto de todos nós.
O mundo está em processo de extinção a começar pelas relações humanas...

Beijo daqui

[Eduarda]

Campista,

Um texto mais que realista do quotidiano das cidades. duas leis, duas medidas, e a morte pelo meio.

bj

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Que lástima a realidade da minha querida capital e de tantas outras. A despeito disso tudo, sobrevivemos e vivemos até quando? Enquanto não temos resposta, protestamos, criamos. procuramos, admiramos o que resta de bom. Um exemplo é a maneira como escreve mesmo sobre um tema tão duro e triste.

É isso aí, Cabral...
Escreva sempre
Sobre o bem
Sobre o mal.

Abraço...

[CAMPISTA CABRAL]

Olá Alexa!

Há a bonança sim, mas não sabemos ao certo quando virá! Obrigado por tuas palavras!

Olá Tere!

Em tudo o que disse, disse acertadamente. O belo Rio de Janeiro, cidade do caos, cidade da beleza e do inferno. Capital do melhor e do pior, como bem cantou Fernanda Abreu em Rio 40ºC. Obrigado pelo comentário!

Olá Cleo!

As relações humanas estão cada vez piores. Rumamos para o fim! Ou recomeço? Obrigado pela leitura!

Olá Eduarda!

Um cotidiano nu e cru. O Rio como, de fato, é. O Rio do bem e do mal. Obrigado pelo olhar atento!

Olá amigo Oswaldo!

Pena falar do Rio assim. É como o senti e como o sinto há um bom tempo! Obrigado amigo!

Abraços brasileiros a todos!

[arfemo]

belo texto sobre um tema triste, infelizmente alastrando em mancha de óleo neste dito mundo ocidental: do rio ao México, de Lisboa a Paris, com as suas diferenças (essenciais ainda, mas o mesmo ovo da serpente está presente em todas elas).

abraço

[Goreti Dias]

A vida na sua crueldade maior!

[gdec2001]

Duas visões , a da Tere e a do Campista , complementares . Mais reflexiva uma, mais realista outra . Magníficas ambas .
E também amo o Rio.
Obrigado .
Geraldes de Carvalho

[Oswaldo Eurico Rodrigues]

Geraldes...

Apesar de todos os problemas também amo o Rio de Janeiro. Amo inclusive fotografá-lo.

Abraço...

[CAMPISTA CABRAL]

Arfemo, Goreti, Geraldes e Oswaldo:

O Rio em carne viva e crua e nua. O rio exposto com ou sem gosto. Uma triste realidade de uma grande cidade!
Também amo o Rio, mas não posso deixar de ver e de escrever sobre o que eu vejo.

Abraços a todos!