NOTAS DE VIAGEM * 8 - D. Ramón

[José-Augusto de Carvalho]

Ensaiava os primeiros passos, incertos e perplexos.
Era o começo da jornada.
Na berma do caminho,
jazia, sufocada, a Liberdade.
Ao longe, na Espanha ensanguentada,
Guernica esperava pelo talento de Pablo Picasso...
Federico tombava, assassinado,
porque Granada tem dois rios:
um de pranto
e um de sangue.
Dolores gritava No Pasarán!
Mas eles passaram e a Espanha ficou viúva.
D. Ramón andou comigo ao colo.
Aqui encontrou guarida e pão sem sabor a sangue.
D. Ramón, perdoa aquele menino
que não guardou na memória
a imagem do teu rosto macerado.
Obrigado, D. Ramón, porque gravaste em meu peito,
com tinta de lágrimas,
o coração ferido da tua amada Espanha.
José-Augusto de Carvalho
14 de Dezembro de 2005.
Viana do Alentejo * Évora * Portugal

[Laura]

Mas andou consigo ao colo... e assim o coração dele não ficou tão ferido.

[marcopintoc]

Caro José-Augusto

A temática da guerra civil Espanhola é algo particularmente tocante para mim. O seu poema é uma bela homenagem aqueles que , derrotados nas armas mas não nas ideias, abalaram da sua casa e deixaram por outras terras as memórias daqueles homens e mulheres , por vezes quase maltrapilhos, que enfrentaram as  baionetas do fascismo. Quando terminei a leitura do seu poema tive quase a sensação de escutar os passos da marcha apressada da coluna Durruti " A Madrid , A Madrid "

Abraços
Marco

[José-Augusto de Carvalho]

Boa tarde, prezada Laura!
Boa tarde, prezado Marco!

Prezada Laura, tenho a certeza de que D. Ramón, aqui, a cem km do conflito tremendo que enlutou a Espanha, foi muito acarinhado, mas feridas daquelas não saram nunca.

Prezado Marco, quem viveu aqueles tempos e assim tão perto do conflito, ainda que muito menino, como eu era, fica marcado para toda a vida. Para mais, meus casaram em Espanha, aqui tb pertinho, em Villa Nueva del Fresno.

Grato a ambos por me lerem.

Cordias saudações.
José-Augusto

[Dionísio Dinis]

Dilacerante guerra que ensanguentou um povo e um sonho de dias melhores, dilacerante guerra que , ainda assim, proporciona um belo poema com registos de ternura!