Pedro Ventura
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« em: Agosto 11, 2008, 17:20:51 » |
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Sentados no sofá em frente à televisão, mãe e filho viam um canal sobre viagens. Inopinadamente, com a ingenuidade dos seus cinco anos, o rebento pergunta: - Mãe, porque é que eu nunca viajei? - Mas tu já viajaste muito meu amor. - responde a mãe com a sua voz terna. - Mas não me lembro de ter saÃdo daqui. - continua o miúdo. - Espera um pouco. - a mãe erige-se do sofá e vai direito a uma gaveta do móvel da sala. De lá, trás um álbum de fotografias de grossa lombada. Senta-se de novo ao lado da criança. Coloca o álbum de recordações fotográficas em cima das pernas e enceta em desfolhá-lo vagarosamente. - Vês aqui esta torre? - aponta um retrato. - Sim! - o petiz abana a cabeça afirmativamente. - Chama-se torre Eiffel e tu já lá estiveste. A cidade chama-se Paris. - Já lá estive?! Não me lembro. - diz o miúdo um nada confuso. - Sim, não te lembras, mas já lá estiveste. Olha tu aqui. - aponta orgulhosamente a sua barriga de grávida. - Estavas dentro de mim, por isso é que não te lembras. Paris é uma cidade bela e romântica... - O que é "romântica" mãe? - É uma espécie de combustÃvel para alimentar o amor. Mas isso agora não importa... - E quem é este senhor que está agarrado a ti? - pergunta o rapazito, tentando saciar a sua curiosidade. A mãe, ignorando e esgueirando-se à pergunta do filho, continua a virar as páginas do álbum de reminiscências. - Estás a ver estes barcos? Chamam-se gôndolas e a cidade Veneza. Tu também já lá estiveste. - aponta de novo a barriga túmida. - Vês... - Quando é que eu posso viajar e ver tudo com os meus olhos mãe? - interrompe o menino. Com as vistas humedecidas de saudade e tristeza, quase a formarem-se lágrimas, a mãe responde: - Talvez um dia meu filho... Talvez um dia... - o resto da frase não foi dita, ficou retida no pensamento. - Quando arranjar um novo pai para ti. Fecha o álbum, puxa o rebento para si, aperta-o, beija-lhe a cabeça loira e remata: - Vá, vamo-nos deitar, já é tarde.
2004
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